Cruzeiros & Projetos
Desde o início de suas operações, o N/Oc. Prof. W. Besnard realizou mais de 260 cruzeiros oceanográficos, atuando em uma extensa relação de projetos e trabalhos de ponta.
Em 1982 o Besnard enfrentou o grande desafio de atuar como o principal laboratório do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR). O navio rumou para as águas geladas da Antártica mesmo sem ter a estrutura adequada para vencer as colunas de gelo, tendo o caminho aberto pelo N/Oc. de Apoio Barão de Teffé, da Marinha Brasileira, contribuindo decisivamente para o ingresso do Brasil como membro pleno do Conselho Consultivo do Tratado da Antártica, que congrega um restrito grupo de países. A embarcação participou de todas as campanhas realizadas no continente antártico até o verão de 1987/88, quando as atividades do Besnard na região foram encerradas.
Ao longo de sua atuação, o navio participou de outras importantes pesquisas no Brasil e também de projetos internacionais.
Tabela com todos os cruzeiros realizados pelo N/Oc. Prof. W. Besnard, de 1967 até 2006*. Acesse aqui!
* Fonte: Diário de Bordo/Edição Especial-2006/07 - 40 anos de navio ao mar: Prof. W. Besnard
Abaixo segue a descrição de alguns dos principais projetos realizados a bordo do N/Oc. Prof. W. Besnard:
VIKINDIO
Entre maio e dezembro de 1967
A primeira expedição de pesquisa foi organizada em duas partes, sendo realizada por uma equipe conjunta de pesquisadores brasileiros e noruegueses. Embarcaram oito pesquisadores e técnicos do IOUSP (entre eles o professor Luiz Bruner de Miranda), quatro técnicos do Geofysisk Institutt e Fiskeridirektoratets (Bergen - Noruega) e um técnico de pesca da FAO, especialista do Fundo Especial para o desenvolvimento da Pesca nos países da África Ocidental.
A etapa internacional começou em Bergen e terminou em Las Palmas (extremo norte da África) – ficando conhecida como VIKINDIO. O plano de viagem da primeira expedição foi composto por nove cruzeiros oceanográficos. Foram realizados estudos na costa africana a partir da coleta de amostras de água e de plâncton, verificação de dados hidrográficos, coletas de fauna bentônica na plataforma e pela detecção de peixes por ecosondagem, entre outras atividades.
Um fato marcante desse projeto foi a descoberta de uma montanha submarina encontrada nas proximidades da Ilha do Sal, no Atlântico Norte, na rota entre Dakar e Las Palmas. A montanha de 3,5 mil metros tinha o topo constituindo um alto fundo de 194 metros abaixo da superfície do mar. Recebeu o nome de Seamount Besnard. Contribuiram para essa descoberta os equipamentos avançados que o navio dispunha.
A segunda etapa começou em Las Palmas e marcou a chegada do navio ao Brasil – primeiro em Recife, quando parte da equipe original foi substituída. Depois de Recife houve uma escala em Vitória (ES) e, finalmente, Santos, onde atracou em 09 de agosto de 1967. E escala brasileira incluiu outros dois cruzeiros científicos – um para a Ilha de Trindade e outro ao largo de Santos – realizados em seguida, entre setembro e dezembro do mesmo ano, marcando o final do VIKINDIO II.
A etapa brasileira serviu para determinar a produtividade primária das diferentes massas de água, além de contar com medições diretas na corrente do Brasil, coletando dados sobre a produtividade das águas quentes. Foram também realizadas medições de produtividade, em dados obtidos em 14 estações, variando de 15 até 120 milhas de distância entre as estações.
Yara Schaeffer-Novelli e Sérgio Signorini, durante o trecho brasileiro
do primeiro cruzeiro oceanográfico do Besnard, em 1967.
GEDIP I e II
Pesquisa Oceanográfica e Pesqueira do Atlântico Sul, entre Torres e Maldonado – Programa Rio Grande do Sul I e II - 1968 a 1974
Essa expedição é considerada um marco, porque pela primeira vez o navio foi contratado por um agente externo, no caso, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul. O convênio estabelecido com o GEDIP (Grupo Executivo do Desenvolvimento da Indústria da Pesca) deu origem a um projeto de caráter multidisciplinar, cuja proposta era realizar o levantamento do potencial pesqueiro da plataforma continental entre Torres (RS) e Maldonado (Uruguai).
Conduzido por pesquisadores do IOUSP, o trabalho forneceu subsídios às atividades de produção pesqueira na região, auxiliando no melhor planejamento das mesmas. Propiciou, ainda, aprofundar os conhecimentos sobre as características oceanográficas da área estudada.
O projeto se repetiu na região Sudeste com a pesquisa FAUNEC (Fauna Nectônica da Plataforma Continental Brasileira), financiada pelo CNPq. Os especialistas consideram que os dois projetos foram os embriões de estudos mais abrangentes como a pesquisa de recursos vivos na Zona Econômica Exclusiva brasileira (REVIZEE), que também usou o N/Oc. Prof. W. Besnard.
O GEDIP I contou com seis cruzeiros oceanográficos a bordo do Besnard, enquanto o GEDIP II, com cinco expedições. Ao todo, o projeto somou 173 dias de navegação.
REMAC
Reconhecimento Global da Margem Continental Brasileira - 1972 a 1974
Considerado um dos mais extensos e importantes trabalhos sobre geologia e geofísica realizado ao longo da margem continental brasileira, o projeto gerou uma série de mapas sobre o fundo marinho até então inéditos no país. A partir dele foi possível coletar informações sobre as estruturas geológicas rasas e profundas, além da localização de áreas com potenciais para exploração petrolífera.
Foi coordenado pela Petrobrás, com a participação do Departamento Nacional da Produção Mineral, da Companha de Pesquisa de Recursos Minerais, da Diretoria de Hidrografia e Navegação e do CNPq. O convênio contou com a participação de instituições estrangeiras, como o Woods Hole Oceanographic Institution e o Lamont-Doherty Geological Observatory, dos Estados Unidos, além do Centre National pour l´Exploration des Océan (CNEXO), da França. Teve ainda a participação de diferentes universidades brasileiras através do CNPq e do Programa de Geologia e Geofísica Marinha. A maior parte do trabalho de campo foi realizada a bordo do Besnard, com 22 cruzeiros oceanográficos e 221 dias de navegação.
CIÊNCIAS DO MAR
Projeto Multinacional de Ciências do Mar – 1972 a 1980
Sem contar o VIKINDIO, foi o primeiro projeto de caráter internacional do qual o Besnard participou. Contou com financiamento da Organização dos Estados Americanos (OEA). Ao longo dos oito anos que durou, foi realizada uma série de cruzeiros científicos, que serviram de apoio a projetos menores.
Mediante esse acordo, foram feitos importantes estudos nas diferentes áreas da Oceanografia, que exigiram a compra de equipamentos importantes para a operação do navio, como o correntômetro de Braystoki.
PROANTAR
Programa Antártico Brasileiro – 1982 a 1988 (com o Besnard)
O programa de pesquisa no continente antártico, com participação de pesquisadores do IOUSP, contou com seis campanhas científicas a bordo do Besnard. A última voltou ao Brasil em março de 1988. A primeira expedição brasileira à Antártica foi diretamente patrocinada pela SECIRM e recebeu o apoio de entidades privadas como a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
N/Oc. Prof. W. Besnard na Antártica. Foto: Lourival Pereira de Souza
Os trabalhos desse cruzeiro, associados aos levantamentos prévios realizados pelo Barão de Teffé (Navio de Apoio Oceanográfico enviado pela Marinha do Brasil para escolher o local onde seria instalada a Estação Antártica Comandante Ferraz), viabilizaram a participação do Brasil como membro pleno do Conselho Consultivo do Tratado da Antártica, em setembro de 1983 e, posteriormente, no SCAR (Scientific Commitee on Antartic Research). Também permitiram o ingresso do país no SIBEX (Second International Biomass Experiment), do BIOMASS (Biological Investigation of Marine Antartic System and Stock).
As atividades do navio Besnard naquele continente foram encerradas devido ao desgaste sofrido pela embarcação nessas travessias. Na última excursão à Antártica, em 1988, o eixo da hélice do navio se partiu quando a equipe atravessava a Passagem de Drake (área que faz a ligação entre a América do Sul e a Antártica).
O PROANTAR, que está ativo desde 1982, pesquisa os fenômenos que ocorrem na Antártica e as prováveis influências sobre o Brasil. Cabe ao CNPq selecionar e acompanhar as atividades científicas do programa, realizadas por diversas universidades, institutos de pesquisas e entidades públicas e privadas, de acordo com o planejamento elaborado pela SECIRM. A partir de 2000, o PROANTAR estabeleceu um novo ciclo de pesquisas. Os trabalhos são divididos em duas grandes redes, sendo que uma delas, a chamada Rede 2 ficou a cargo de cientistas do IOUSP.
Navio retornando da 1º expedição à Antártica
PSRM
Plano Setorial para os Recursos do Mar – 1982 a 1980
O objetivo do PSRM foi pesquisar áreas desde as regiões costeiras até o mar profundo. O navio Besnard foi usado em diversos projetos desenvolvidos ao longo desse período. O IOUSP destaca o projeto multidisciplinar Estudo Integrado de Ambientes Marinhos de Região Sudeste; o projeto Circulação, Transporte e Mistura; e o projeto também integrado Utilização Racional do Ecossistema Costeiro da Região Tropical Brasileira – Ubatuba (SP).
COROAS
Circulação Oceânica da Região Oeste do Atlântico Sul – 1992 a 1998
Foi um dos mais ambiciosos projetos oceanográficos realizados no Brasil, avaliando a produtividade primária no Oceano Atlântico. Contribuiu para a determinação sazonal dos campos de velocidade, dos transportes de calor e de massa da corrente do Brasil e da Água Antártica Intermediária que flui na região Sudeste da costa nacional.
Foi um projeto financiado pela FAPESP (Fundação de Apoio à Pesquisa do Eestado de São Paulo) e pelo CNPq. Dele participaram pesquisadores do IOUSP em parceria com equipes do INPE (Instituto nacional de Pesquisas Espaciais) e da FURG (Fundação Universidade do Rio Grande).
O COROAS representou a contribuição brasileira para o programa WOCE (World Circulation Experiment), da COI (Comissão Oceanográfica Intergovernamental). O projeto incluiu cruzeiros para os litorais de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio grande do Sul. Foram 16 cruzeiros oceanográficos, totalizando 125 dias de navegação.
PADCT
Projeto PADCT – Levantamento de Recursos Vivos e Não-Vivos na Quebra da Plataforma na Região Sudeste do Brasil - 1994 a 2001
Águas nacionais
Cabo Frio (RJ) – Cabo de Santa Marta Grande (SC)
Brasil – Oceano Atlântico Sul
O projeto multidisciplinar realizou campanhas entre Cabo Frio (RJ) e o Cabo de Santa Marta Grande (SC) para levantamento de recursos vivos e não-vivos na região da quebra da plataforma na região Sudeste do Brasil.
Os objetivos principais do projeto foram caracterizar a estrutura oceanográfica em escala tridimensional e sua dinâmica na margem continental;
Estimar a produtividade biológica da coluna de água e do fundo, que sustenta esse ecossistema oceânico peculiar.
As pesquisas foram realizadas com subsídio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PADCT) do CNPq e também Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Foram realizados quatro cruzeiros científicos a bordo do N/Oc. “Prof. W. Besnard”.
Especial
Este projeto obteve importantes informações oceanográficas da área física, química e biológica, destacando aspectos da ressurgência marinha do Cabo Frio (RJ) e da dinâmica hidroquímica na região do Cabo de Santa Marta, informações estas associadas aos vários aspectos biológicos observados ao longo da região do talude continental contribuíram ao importante Programa Nacional – REVIZEE (Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva) referente ao SCORE – SUL.
REVIZEE
Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva – 1996 a 2006
A partir da Convenção de Direitos do Mar promovida pela Organização das Nações Unidas, os países costeiros passaram a ter o direito de explorar, com exclusividade, os recursos marinhos dentro de uma zona que conta com 200 milhas a partir da costa. Para isso, essas nações são obrigadas a realizar estudos marinhos nessa zona.
O Brasil estabeleceu o projeto REVIZEE em 1994. Para efeito de estudos, a costa brasileira foi dividida em quatro regiões, de modo a ser executado um inventário dos recursos vivos encontrados em cada uma delas, sua distribuição, abundância e dinâmica, além de avaliar os potenciais sustentáveis de exploração.
Do REVIZEE participaram 57 laboratórios de diversas universidades do Sul e Sudeste do país, reunindo um grupo de 398 pessoas, entre pesquisadores, bolsistas e estagiários. O programa contou com recursos do Ministério do Meio Ambiente, CNPq, FEMAR (Fundação Estudos do Mar) e da Petrobrás.
No âmbito do programa, o Besnard foi utilizado para coletar uma grande quantidade de dados de batimetria, amostras de fundo oceânico e de resposta acústica do fundo. Combinadas com outras informações, essas investigações permitiram traçar a caracterização do fundo marinho na região. Foram dez cruzeiros entre 1997 e 1998 (quando foram recuperados os fundeios da FURG, no Sul da Bacia de Santos), completando 77 dias de navegação.
DEPROAS
Dinâmica do Ecossistema de Plataforma da Região Oeste do Atlântico Sul – 2001 a 2004
Como parte do projeto, nesse período, o Besnard realizou 30 cruzeiros científicos, resultando em 305 dias
de navegação. O objetivo do DEPROAS foi estudar os mecanismos físicos que possibilitam a penetração da ACAS (Água Central do Atlântico Sul), massa de água que aflora nas proximidades da costa na chamada ressurgência de Cabo Frio, na plataforma continental. A região de estudo fica entre o Cabo de São Tomé e São Sebastião. A investigação incluiu avaliar o impacto que essa penetração exerce nos processos biológicos dos ecossistemas da região.
Para a coleta de dados e a análise dos levantamentos em laboratórios, a equipe usou métodos e instrumentos bastante modernos. Durante as atividades de campo foram realizados 58 fundeios oceanográficos. O DEPROAS contou com financiamento do PRONEX (Programa de Núcleos de Excelência) e de duas agências financiadoras – a FINEP e o CNPq. O projeto, que fez parte das atividades do programa internacional GLOBEC, contou com a participação de pesquisadores do IOUSP, do INPE, da UESC (Universidade Estadual de Santa Catarina) e do IEAPM (Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira).
ECOSAN
A influência do Complexo Estuarino da Baixada Santista sobre o Ecossistema da Plataforma Adjacente – 2005 a 2007
Os grupos de pesquisadores tiveram a tarefa de estudar os efeitos causados pelo complexo estuarino da Baixada Santista sobre o ecossistema da plataforma continental situada entre São Sebastião e Peruíbe, no litoral paulista. Durante o ECOSAN foram realizados 18 cruzeiros científicos utilizando o Besnard como plataforma de pesquisa, totalizando 52 dias de navegação.
O ECOSAN mapeou o leito do oceano, o ecossistema marinho da região e o impacto dos elementos contaminantes sobre a fauna e flora da região, especialmente sobre as espécies de peixes mais visadas pelos pescadores. Também foram investigados os efeitos das correntes marítimas no fluxo dos poluentes. O estudo contou com recursos cedidos pela FAPESP e pelo CNPq, por intermédio do PRONEX, mobilizando em torno de 50 pesquisadores do IOUSP.