VII. A grande quantidade de krill

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Estimativas indicam que a biomassa do krill, Euphausia superba, supera a biomassa humana, o que significa ao colocarmos em um lado de uma balança todos os seres humanos e do outro todos os indivíduos de E. superba, a balança penderá para o lado do Krill (fig. 1).

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Figura 1 – Estimativas mundial de biomassa humana - Homo sapiens - incluindo crianças (United States Census Bureau, 2012) e de biomassa de krill - Euphausia superba (Atkinson et al., 2009).

Esse foi um dos motivos que estimulou, no princípio do Programa Antártico Brasileiro em 1982-1983, os estudos sobre o krill, que estavam entre as metas de pesquisa mais importantes do cenário internacional. Há muito tempo existe o interesse em utilizar o krill da Antártida como fonte de alimento para o ser humano. A pesca do krill no Oceano Austral começou nos anos 70 e continua até hoje. Nos anos 80 as capturas chegaram perto das 500 mil toneladas anuais, e hoje não passam de 100 mil toneladas. No início dos estudos, as estimativas da biomassa do krill eram exageradas e havia alguns pesquisadores que acreditavam que seria possível pescar até 200 milhões de toneladas de krill por ano sem grandes prejuízos para suas populações. Nessa época a pesca anual mundial, de todos os itens, não passava das 100 milhões de toneladas. Nesse caso, só o krill poderia render o dobro de alimento e de lucros do montante total proveniente das atividades de pesca. Novos estudos demonstraram que as estimativas eram mal fundamentadas e hoje os cálculos indicam uma biomassa entre 300 a 500 milhões de toneladas, o que permitiria uma captura máxima de cerca de 1 a 5 milhões de toneladas, caso as estimativas se mantenham. De qualquer maneira, as capturas do krill podem ser muito superiores às atuais.

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Figura 2 – Distribuição circumpolar de Krill no oceano austral baseada em 8789 amostragens realizadas desde 1926. Para elaboração deste mapa de distribuição foi usado o conjunto de dados padronizados do KRILLBASE (fonte: http://www.iced.ac.uk/science/krillbase.htm).

A biomassa do krill, no entanto, parece flutuar entre os diferentes anos. Estudos indicam que o sucesso reprodutivo do krill é maior nos anos em que a extensão e duração do gelo marinho do inverno são maiores. Nesta época do ano, quando a produtividade primária do Oceano Antártico decai, o krill subsiste com bastante eficiência, alimentando-se das algas que crescem sob o gelo marinho, “raspando” o mesmo na interface com a coluna d´água. Este processo é importante uma vez que o krill subsistente constituirá o estoque reprodutivo que desovará na primavera vindoura, quando há aumento do fotoperíodo, derretimento do gelo e aumento da produção primária fitoplanctônica, provendo alimento suficiente a toda população e, mantendo assim, a elevada biomassa destes organismos. Os juvenis do krill podem inclusive, se abrigar nas reentrâncias e espaços formados pela camada de água congelada. Nos anos nos quais a extensão e duração do gelo são menores, as salpas, e outros organismos do zooplâncton, competem com o krill pelo fitoplâncton que cresce na coluna d’água. As salpas não conseguem se alimentar das algas do gelo, mas são filtradoras e consumidoras vorazes do fitoplâncton disperso na coluna d´água no inverno. Assim, em anos de inverno menos rigoroso, com menor cobertura de gelo marinho, a população de krill diminui e a competição por alimento favorece a população de salpas. Por sua vez, invernos rigorosos que levam a maior cobertura de gelo marinho, por um tempo maior, são vantajosos à população de krill.

antartida07cFigura 3 – Salpa Antártica, animal gelatinoso filtrador, competidora na obtenção de fitoplâncton nos anos onde a extensão do gelo marinho é menor (autor da foto: Gabriel Monteiro, acervo pessoal).

Essa alternância de populações faz parte do funcionamento normal do ecossistema marinho antártico. No entanto, com o aquecimento global, os anos frios, favoráveis ao krill, têm diminuído. Caso esse quadro permaneça, é possível que haja um impacto sobre as populações do krill e que o equilíbrio da teia alimentar seja afetado.

Leituras sugeridas:
Atkinson, A.; Siegel, V.; Pakhomov, E.A.; Jessopp, M.J.; Loeb, V. 2009. A re-appraisal of the total biomass and annual production of Antarctic krill. Deep-Sea Research I. 56 (5): 727–740.
http://www.iced.ac.uk/science/krillbase.htm
http://www.antarctica.gov.au/about-antarctica/wildlife/animals/krill

 

Autores: Arthur José da Silva Rocha; Maria José de A. C. R. Passos; Gabriel Monteiro; Prof. Dr. Phan Van Ngan
Coordenador: Prof. Dr. Vicente Gomes

 

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