VI. O krill da Antártida.

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Krill é um termo que designa diversas espécies de crustáceos da ordem Euphausiacea. O termo tem origem nórdica e significa “peixinho” ou era usado para designar os “peixinhos” que as baleias comem. Essa palavra é utilizada, inclusive, como sobrenome familiar, provavelmente originado da profissão de pescador, de forma semelhante ao que acontece com o sobrenome inglês Fisherman, por exemplo. A ordem é composta por cerca de 85 espécies, que ocorrem em mares do mundo todo. Há várias espécies de krill importantes, inclusive economicamente. A espécie Euphausia pacifica (fig. 1), por exemplo, é pescada e comercializada pelos japoneses há muito tempo. Há até livros de receitas japoneses voltados exclusivamente ao preparo de diversos pratos cujo ingrediente principal é esse animalzinho.

antartida06aFigura 1 - Euphausia pacifica Hansen, 1911, comercializada pelos japoneses há muito tempo (autor: John Snow - http://www.mexfish.com).

Espécies de krill também são encontradas em águas polares, com grande abundância. Vários animais, como baleias, focas e aves procuram as regiões antárticas, ricas em krill e outras fontes de alimento, nas épocas mais quentes do ano. Na Antártida ocorrem sete espécies de eufausiáceos, mas a mais abundante delas é a Euphausia superba (fig. 2), a quem chamaremos de agora em diante de krill da Antártida ou simplesmente de krill. Devido à importância dessa espécie no ecossistema marinho austral, os estudos realizados durante o Programa Antártico Brasileiro com krill foram feitos principalmente com ela. Por isso, quando falamos do krill aqui no Brasil, é essa espécie que vem à mente da maioria das pessoas.

antartida06bFigura 2 - Euphausia superba (Dana, 1850), uma das espécies de maior tamanho dentre os euphausiáceos (autor: Russ Hopcroft – Censo da Vida Marinha Antártica).

Os indivíduos da espécie E. superba são os que atingem os maiores tamanhos em comparação com os das outras espécies da família, podendo chegar a até 6cm. Uma característica comum nos mares antárticos é que muitas espécies de invertebrados atingem tamanho e idade maiores do que os indivíduos de espécies correspondentes em regiões tropicais. O krill, apesar de ser um organismo relativamente pequeno, pode chegar a viver até 11 anos, segundo alguns pesquisadores do assunto. Eles nadam ativamente, o tempo todo, e vivem na coluna d’água, alimentando-se de fitoplâncton, pelo menos nos períodos quando este é mais abundante. Nessas épocas, eles formam grandes cardumes que podem chegar a mais de 6km de extensão e mudar a tonalidade da água. São, portanto, um elo de grande importância entre a produção primária e os animais maiores que se alimentam dele. Imagine que algumas das grandes baleias comem quase que exclusivamente krill. Isso é possível pelo fato de ele ser abundante, energético e viverem em grupos densos. As baleias precisam simplesmente abrir boca e nadar através do cardume para obterem todo o alimento de que necessitam. No inverno, a densidade dos cardumes diminui já que os indivíduos passam a viver mais isoladamente raspando as algas que crescem aderidas ao gelo. Muitos pensam que o gelo marinho que cobre os mares austrais no inverno é morto, mas isso não é verdade. Toda uma comunidade de produtores primários e pequenos animais vivem nos canais e nas reentrâncias do gelo. Pois é justamente esse o principal alimento do krill no inverno. Esse hábito é importante do ponto de vista ecológico pois nessa época de relativa escassez alimentar os animais que comem o krill podem simplesmente aproximar-se do gelo e obter alimento sem precisar persegui-los na coluna d’água, já que eles estão concentrados ali. Algumas focas, por exemplo, passam parte do tempo descansando sobre o gelo e quando estão com fome elas mergulham e comem o krill e peixes que estão sob o gelo se alimentando (fig. 3). Para elas, o gelo é um verdadeiro “sofá-restaurante”, muito confortável.
O krill está extremamente adaptado ao ambiente aonde vive, como não poderia deixar de ser, e são algumas dessas adaptações que veremos nos nossos artigos seguintes. Aguardem.

antartida06cFigura 3 – Krill se alimentando de microalgas que crescem sob a camada de gelo marinho (autor: Peter Marschall & Uwe Kils - http://www.ecoscope.com).

Consultas sugeridas:
Vídeo de baleias jubarte se alimentando de krill: http://www.youtube.com/watch?v=yMxY4c5SeIs
Como é feita a produção de óleo de Krill: http://www.youtube.com/watch?v=fCRzNvtn-N0

 

Autores: Arthur José da Silva Rocha; Maria José de A. C. R. Passos; Gabriel Monteiro; Prof. Dr. Phan Van Ngan
Coordenador: Prof. Dr. Vicente Gomes

 

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