III. Mudanças climáticas na Antártida

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A Antártida tem papel fundamental no balanço energético do planeta, funcionando como um gigantesco dissipador de calor. Entretanto, fatores como as condições climáticas extremas, o isolamento geográfico e a ocupação tardia fazem com que a região ainda não esteja equipada com uma rede de monitoramento ambiental que corresponda à importância desse papel.

Dados climatológicos com pequena densidade espacial e séries temporais relativamente curtas tornam bastante difíceis as tarefas de estabelecer um diagnóstico preciso e abrangente acerca das mudanças climáticas na Antártida, ainda mais em comparação a outras regiões do planeta. O Ártico, por exemplo, é monitorado há muito mais tempo e os efeitos do aumento de temperatura são documentados de forma mais eficiente.

antartida03aFigura 01: Estação do primeiro Ano Polar Internacional para estudos meteorológicos, localizada no mar de Kara durante o inverno de 1883 (fonte: http://www.arctic.noaa.gov).


De um modo geral, os registros em série de temperatura do ar na região da Península Antártica apresentam uma tendência positiva, ou seja, de aumento de temperatura, que é particularmente mais acentuado na sua porção Oeste. Já no interior do continente, a tendência ou é negativa ou não é estatisticamente relevante. Dados de satélite apontam também uma tendência de aquecimento da temperatura das superfícies expostas de solo, do gelo, do gelo marinho e da superfície do mar em grande parte das regiões costeiras.

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Figura 02: Variação de temperatura próxima ao solo no período de 1981 a 2007. Regiões em vermelho indicam aumento de temperatura, em azul indicam redução de temperatura e em branco regiões onde a temperatura não apresentou variação para o período analisado. (fonte: http://earthobservatory.nasa.gov).


Um assunto que ocupou muito do noticiário nos últimos anos é o buraco na camada de ozônio. Causado, principalmente, pela emissão atmosférica de gases CFC (clorofluorcarbonetos) e óxidos de nitrogênio, o buraco se forma na baixa estratosfera sobre a Antártida durante o inverno e a primavera austrais, devido à formação de um vórtice polar gerado por fortes ventos de oeste. Esse vórtice diminui a mistura do ar sobre o continente antártico com o dos arredores, de modo que durante a ocorrência do buraco, a reposição do ozônio destruído por aquele proveniente de áreas adjacentes é bastante prejudicada. Estudos apontam que o resfriamento atmosférico causado pela menor absorção da radiação ultravioleta pela camada de ozônio, está promovendo também o aumento do contraste de temperaturas entre a região central (onde o buraco na camada é maior) e a periferia do continente. Por sua vez essas diferenças de temperatura aumentam as diferenças de pressão que promovem ventos ainda mais fortes no continente mais ventoso do planeta. Esses ventos estariam então ajudando a isolar, como uma espécie de barreira, grande parte do continente do aquecimento vindo de latitudes mais baixas. Como se espera que a camada de ozônio se recupere ao longo deste século (devido a regulamentação do uso de CFCs), modelos climáticos, que incorporam cálculos fotoquímicos relacionados ao ozônio, apresentam respostas de desintensificação dos ventos circumpolares e aumento de mais de 2ºC na temperatura média da Antártida nos próximos 90 anos.

antartida03cFigura 03: Variação na camada de ozônio sobre a antártica desde 1979 a 1999. A extensão máxima do buraco foi registrada em 1998, cobrindo 27,2 milhões de quilômetros quadrados, cerca de três vezes a área do Brasil (fonte: http://earthobservatory.nasa.gov).


Quando o buraco se desfaz, esse ar pobre em ozônio se espalha, causando queda de até 10% no nível de ozônio na Nova Zelândia, por exemplo. O fato de que uma menor camada de ozônio significa que maior quantidade de radiação ultravioleta (RUV) chega à superfície terrestre já foi amplamente divulgado, principalmente pela relação direta entre essa radiação e a ocorrência de câncer de pele em humanos. Entretanto, os possíveis danos genéticos provocados pela RUV se estendem também à vida marinha. Existem trabalhos mostrando queda na produtividade do fitoplâncton antártico em uma área sujeita aos efeitos da diminuição da camada de ozônio, bem como danos genéticos em diversos organismos quando sujeitos à radiação ultravioleta que, associada a poluentes, pode causar prejuízos ainda maiores.

Como se pode notar, mudanças das condições naturais podem funcionar de maneiras opostas, mas isso não significa que uma possa anular a outra e resolver o problema. A complexidade dos fenômenos exige estudos muito mais profundos e também a tomada de decisões bastante complexas. O buraco de ozônio atual permite que radiação danosa à vida chegue à superfície da Terra, colocando em risco plantas e animais mas parece, pelo que se sabe até agora, que poderia ajudar a diminuir o aquecimento da região. Dessa forma, a elevação da temperatura devido ao aquecimento global poderia, na Antártida, ser acelerada com a diminuição do buraco de ozônio. Se isso for correto, as medidas tomadas para diminuir o buraco de ozônio solucionariam o problema da RUV mas poderia intensificar o problema do aquecimento na região central do continente antártico. O que escolher? É claro que essa pergunta é desnecessária, pois seria o mesmo que perguntar: como você prefere acabar com o ecossistema, com a radiação ou com o calor? É evidente que medidas devem ser tomadas para que tanto o buraco de ozônio quanto o aquecimento global sejam minimizados, se quisermos realmente proteger o planeta.

 

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Autores: Aline Kirschbaum; Caio Cipro; Fernanda Imperatrice; Franco Villela; Gabriel Monteiro; Hileia dos Santos Barroso; Ralph Vanstreels
Coordenação: Prof. Dr Vicente Gomes

 

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