II. O Brasil na Antártida
- Detalhes
- Publicado: Quarta, 21 Novembro 2012
O interesse territorial também sempre esteve presente na história da Antártida. Em 1959, para estabelecer o uso do continente para fins pacíficos, 12 países assinaram o Tratado Antártico, um acordo pelo qual todos concordaram em suspender suas reivindicações territoriais, abrindo o continente à exploração científica. O Brasil aderiu ao Tratado Antártico em 1975 e iniciou suas operações na região em 1982. Graças à relevância das pesquisas realizadas na primeira expedição, em 1983 o Brasil passou a pertencer à Parte Consultiva do Tratado Antártico, tendo direito a voz e voto dentro do Tratado. Até o ano de 2041, a Antártida está protegida por este Tratado, quando este será, então, novamente discutido.
Atualmente, 30 países possuem estações científicas espalhadas pelo continente e ilhas adjacentes, entre eles o Brasil. O interesse do Brasil na Antártida envolve três principais aspectos: (i) estratégico, graças à localização da passagem de Drake, muito utilizada como rotas de passagem entre o oceano Pacífico e Atlântico; (ii) econômico, graças a riqueza de água doce, recursos vivos e possíveis reservas petrolíferas e minerais; e (iii) científico, como ambiente único e também graças à forte influência deste continente no clima e dinâmica oceânica da América do Sul.
Um passo importante no processo de consolidação da presença do Brasil na Antártida foi a instalação da Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), em 1984, na ilha Rei George, no Arquipélago das Shetlands do Sul, ao largo da península antártica. Hoje, pesquisas nas áreas de Ciências da Atmosfera, Ciências da Terra e Ciências da Vida são desenvolvidas de forma multidisciplinar e interinstitucional na tentativa de melhor compreensão de fenômenos complexos que atuam sobre a Antártida, como o aquecimento global.
Figura 01: Estação Antártica Comandante Ferraz, antes do incêndio de 2012 (Foto: Rafael B. de Moura – INCT-APA).
A península antártica é uma região chave no estudo do aquecimento global. Resultados de pesquisas brasileiras alertam para sinais de retração em 86% das geleiras da península desde 1950. A ilha Rei George perdeu cerca de 7% de cobertura de gelo nos últimos cinco anos. Porém não são apenas as geleiras que apresentam alterações devido ao aquecimento global. As populações de pingüins papua (Pygoscelis papua) vêm sofrendo um declínio acentuado nos últimos 25 anos, que tem sido relacionado, entre outros fatores, à retração das plataformas de gelo e à redução dos estoques de krill, seu principal alimento.
Figura 02: Pinguim papua (Pygoscelis papua), nas proximidades da Estação Antártica Comandante Ferraz (Foto: Gabriel Monteiro).
Tendo em vista a necessidade de estudos relacionados às mudanças globais e à continuidade das atividades científicas na Antártida, foi criado, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Antártico de Pesquisas Ambientais (INCT-APA), que engloba 15 instituições brasileiras. Este tem como principais objetivos, compreender e monitorar, de forma integrada, a atmosfera antártica e seus impactos ambientais na América do Sul, o impacto das mudanças globais e das atividades antrópicas no meio ambiente antártico; desenvolver um modelo integrado de gestão ambiental para monitoramento e avaliação das mudanças ambientais locais e globais e por fim valorizar a ciência antártica para a sociedade brasileira, promovendo a educação e a difusão de informações.
Localização e nomes das estações de pesquisa presentes no continente antártico (adaptado de ecophotoexplorers.com, National Science Foundation US, Scientific Committee on Antarctic Research SCAR as of 2004, Research Stations in Antarctica Wikipedia).
Leitura sugerida:
National Institute of Science and Technology Antarctic Environmental Research Annual Activity Report / National Institute of Science and Technology Antarctic Environmental Research = Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Antártico de Pesquisas Ambientais (INCT-APA). – 2010– . – Rio de Janeiro : INCT-APA, 2011– 240 p.
Secretaria do Tratado Antártico
Autores: Aline Kirschbaum; Caio Cipro; Fernanda Imperatrice; Franco Villela; Gabriel Monteiro; Hileia dos Santos Barroso; Ralph Vanstreels
Coordenação: Prof. Dr Vicente Gomes