Revelações sobre a fauna do litoral paulista

__Notícia divulgada pelo Jornal da USP versão impressa, nº 1010, de 2 a 8 de setembro de 2013, por Rosemeire Soares Talamone.__

Novas espécies de crustáceos decápodes do litoral paulista foram identificadas por pesquisadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, em parceria om colegas da Bahia e dos Estados Unidos.

As descobertas são alguns dos resultados do Projeto Temático Biota Fapesp Crustáceos decápodes: multidisciplinaridade na caracterização da biodiversidade marinha do Estado de São Paulo - (taxonomia, espermiotaxonomia, biologia molecular e dinâmica populacional).

O Objetivo do projeto, que foi iniciado em 2011 e deve terminar em 2015, é aumentar o inventário paulista de animais com dez patas, isto é: camarões, siris, lagostas, ermitões e caranguejos.

Das novas espécies descobertas até o momento, duas são de camarões-estalo, corrupto (decápode do gênero ''Callichirus'', utilizado como isca pelos pescadores), e outra de um caranguejo eremita (ermitão), do gênero ''Clibanarius''.

O estudo também já identificou e reportou a presença de espécies invasoras, não nativas do litoral paulista, como a de um minúsculo camarão do gênero ''Athanas'', originário do mediterrâneo, e outra do caranguejo ''Charybdis hellerii'', presente nos oceanos Índico e Pacífico. Para os pesquisadores, o transporte desses animais chegam até o nosso litoral na água de lastro dos navios comerciai.

Outra descoberta que surpreendeu os pesquisadores, após análises de morfologia e genética, foi que algumas espécies de ermitões presentes no Brasil são diferentes, apesar de serem nominadas como espécies presentes em outras localidades. O que, segundo o professor Fernando Luis Medina Mantelatto, da FFCLRP, e coordenador do projeto temático, deve-se a uma limitação imposta por barreiras geográficas que isolam determinadas populações e o processo de especialização acaba ocorrendo.

Um dos principais resultados do projeto, segundo o coordenador, seria a descrição do código genético para todas as espécies de crustáceos decápodes marinhos e estuarinos do litoral paulista, com o depósito das sequências em um dos bancos mundiais de dados que reúnem genes de espécies do mundo todo, o GenBank, mantido pelo National Center for Biotechnology Information, nos Estados Unidos.

A explicação para a grande diversidade de crustáceos no Estado de São Paulo, segundo Matelatto, deve-se, entre outras razões, ao fato do território paulista estar numa área com condições abióticas favoráveis à presença de distintos organismos, ou seja, temos a presença de decápodes típicos das áreas tropicais e também de áreas frias. Algumas correntes oceânicas favorecem o trânsito e o estabelecimento de uma mescla de espécies."Temos também um relevo muito recortado, com baías e enseadas, que promove áreas de instalação para essa fauna, que encontra espaço, de proteção e alimento." Particularmente no sul do estado, diz o professor, existe uma influência muito grande de água doce, que, em razão de um relevo repleto de rios e estuários, se transformam em áreas com grande importância ecológica. Por isso, há a necessidade de novos estudos para se conhecer melhor a dinâmica dos organismos que ali se encontram.

Para coletar espécies de fundo, a ideia do projeto é fazer parcerias com o Instituto Oceanográfico da USP, realizando expedições com o Navio Oceanográfico Alpha-Crucis.

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