Pesquisa da USP descobre intensa concentração de poluentes em hotspots ecológicos de Ubatuba

Fonte: AUN

 

[Foto: Reprodução/FreePik]

 

A tese de doutorado Produtos farmacêuticos e de higiene pessoal na zona costeira em Ubatuba (Brasil): um hotspot ecológico e turístico que enfrenta alta contaminação, realizada por Luciana Rocha Frazão, do Instituto de Oceanografia (IO/USP), investiga a presença de fármacos (PPCPs) nas regiões costeiras de Ubatuba, especificamente em áreas de alto valor ecológico da Enseada do Flamengo e Baía de Ubatuba, e suas possíveis consequências a biota regional. 

A pesquisa, através da coleta e análise de amostras, identificou 15 de 22 componentes-alvos nas águas da costa da região Sudeste, que incluíam desde fármacos a produtos de uso pessoal como cafeína, anti-inflamatórios/analgésicos, componentes da cocaína, dentre outros. 

Os componentes foram encontrados desde a região litorânea até as áreas mais afastadas da costa, indicando uma extensa contaminação com baixo nível de diluição por toda a costa marinha. “As características físico-químicas deles não permitem uma diluição por completo e os tratamentos de esgoto não eliminam esses compostos, até porque são muitos e não se sabe os efeitos deles”, explicou a pesquisadora.

 

Gráficos de comparação entre 2019 e 2020 sobre a evolução da contaminação de compostos na Enseada do Flamengo e Baía de Ubatuba. [Imagem: Reprodução/ Luciana Rocha]
 

Luciana ressalta também as possíveis consequências desta contaminação, que podem afetar tanto a cadeia trófica, ou seja, a transferência de energia e, consequentemente, de poluentes entre os organismos, como também as trocas gasosas entre o oceano e a atmosfera.

Tal fenômeno revela-se preocupante devido a intensa importância das águas oceânicas na produção de gás oxigênio para a vida terrestre, processo realizado principalmente pelo fitoplâncton, microorganismos fotossintetizantes que são sensíveis ao aumento da temperatura e à presença de poluentes na água do mar, além de serem responsáveis por 50% da produção do oxigênio que respiramos.

Além disso, questões de saúde pública, bem como impactos na cultura e na economia da pesca da região, podem ser outros setores afetados pelo aumento da concentração destes poluentes nas águas costeiras.

Em sua tese, a pesquisadora ressalta que a expansão destes contaminantes seriam um dos fatores do que a Organização das Nações Unidas (ONU) denominou como Tripla Crise Planetária, ou seja, a interação entre as três principais crises ambientais da atualidade: Mudança Climática, Perda de Biodiversidade e Contaminação Química. Luciana ainda afirma que a acumulação de PPCPs nas águas marinhas, em larga escala, podem desencadear os mesmos efeitos da emissão de poluentes, especificamente do gás carbônico, na atmosfera.

De forma semelhante às emissões de dióxido de carbono na atmosfera, cujo acúmulo de longo prazo levou ao efeito estufa e à atual crise climática, os PPCPs também podem se acumular lentamente. Esse acúmulo pode resultar em mudanças significativas que passam despercebidas até que um ponto de inflexão seja atingido, o que pode levar a consequências graves e irreversíveis para os ecossistemas marinhos”.

Compartilhe