Pesquisa da USP relaciona temperatura dos oceanos com o clima na América do Sul
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- Publicado: Quarta, 26 Junho 2024
Fonte: AUN
A dissertação de mestrado A importância da temperatura de superfície do Oceano Atlântico Sul na avaliação do impacto nas mudanças de regime do Sistema de Monção da América do Sul (SMAS), defendida no Instituto Oceanográfico (IOUSP), por Ivana Damasceno, analisa o impacto da temperatura do oceano no Sistema de Monções da América do Sul, e o papel do aquecimento global no clima da região.
Ivana explica que o Sistema de Monções ocorre quando há uma reversão sazonal da direção dos ventos, o que resulta em verões chuvosos e invernos secos. Esse tipo de clima é visto, principalmente, no sul e sudeste asiático, sendo um resultado da diferença de pressão e temperatura entre o continente e o oceano.
“Na América do Sul a gente não encontra essa clara reversão sazonal dos ventos, e a circulação nessa região é predominantemente do leste”, declara a pesquisadora. A corrente de ventos, que participam do SMAS, circulam pelo Oceano Atlântico Equatorial e chegam na América do Sul pela barreira geográfica da Cordilheira dos Andes, o que altera a direção dos ventos e leva umidade e precipitação para o sudeste.
Aquecimento do Oceano Atlântico
Segundo a pesquisadora, o aumento da temperatura do oceano é consequência das ações antrópicas, sendo o aquecimento global um dos principais fatores. Em relação ao sistema de monção, Ivana diz que um estudo realizado na Índia mostrou que o aumento da precipitação em algumas regiões ocorreu por conta da maior disponibilidade de vapor d’água no clima quente, e não pela circulação monçônica.
No caso do Oceano Atlântico Tropical, Ivana explica que há dois modos de variação da temperatura da superfície do mar (TSM): a TSM zonal e a meridional, ambos analisados em sua tese. O modo zonal é caracterizado pelo “aquecimento anômalo das águas na parte leste do oceano atlântico”, e o meridional é identificado pelo contraste entre uma parte do oceano mais fria, e a outra quente.
“No meu trabalho, para obter esses resultados, calculei uma regressão entre esses modos e a precipitação na América do Sul, para ver se a TSM associada a esse modos teria uma relação direta ou inversa com a precipitação da América do Sul”, acrescenta Ivana. A pesquisa concluiu que há uma relação diretamente proporcional com a quantidade de chuva de grande parte do Brasil no modo zonal, que se estiver na fase positiva, desloca a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) para o Sul, o que gera precipitação na região Norte e Nordeste do Brasil.
Já no modo meridional positivo, o padrão é inverso, e altera a circulação atmosférica e transporte de umidade. “A precipitação é favorecida no extremo norte da América do Sul, e nas outras regiões, principalmente, Norte e Nordeste do Brasil tem uma relação inversa, o que favorece uma condição de seca na região”, explica Ivana. Além disso, a cientista conclui que o aumento da temperatura do oceano, consequência direta do aquecimento global, pode trazer ainda mais precipitação ou seca para a região estudada.