Descobertas de novas espécies de animais abrem possibilidades para novos estudos

Fonte: Jornal da USP

 

Tito Lotufo discorre sobre a descoberta do animal panda-esqueleto-do-mar e como a preservação dos ambientes marinhos auxilia na regulação do clima terrestre

 

Panda-esqueleto-do-mar (Clavelina ossipandae) – Foto: Diving Shop Plus Alpha/@plus_alpha_kumejima/Instagram>

Cientistas japoneses observaram um animal de aparência peculiar próximo à Ilha de Okinawa, no Oceano Pacífico, e, após uma análise minuciosa de suas características, os pesquisadores descobriram que se tratava de uma nova espécie, que foi batizada de “panda-esqueleto-do-mar” devido aos seus atributos físicos peculiares. Tito Lotufo, professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), explica a classificação do animal e como ocorreu a sua descoberta. 

 

Nova Ascídia

Segundo o especialista, a história desse animal ficou conhecida após um grupo de mergulhadores observar a espécie em um ponto de mergulho do Oceano Pacífico e postar imagens nas mídias sociais buscando saber do que se tratava. Por ser desconhecido até então, ninguém pôde reconhecer o animal e, por isso, alguns cientistas japoneses passaram a estudá-lo para descrever sua classificação.

 

O docente conta que, após a coleta do animal no fundo do mar, os cientistas chegaram à conclusão de que o panda-esqueleto-do-mar é uma nova espécie de Ascídia, uma classe pertencente ao subfilo Tunicado. Esse subfilo, segundo ele, é composto por animais invertebrados, mas que, dentre essa designação, são os mais próximos filogeneticamente de espécies vertebradas por serem do mesmo filo, o Chordata.

“São um grupo de animais invertebrados, mas que, dentre os invertebrados, são aqueles mais próximos filogeneticamente de nós, os vertebrados. Eles estão no mesmo filo que os humanos, o Chordata, então são chamados de cordados. Contudo, eles têm um corpo extremamente simplificado e vivem fixos no fundo do mar, filtrando a água e se alimentando dessa forma”, explica.

Catalogação de novas espécies

De acordo com o professor, a designação de nomes para novas espécies está regida por um conjunto de regras que integram o Código Internacional de Nomenclatura Zoológica. Ele informa que a classificação das espécies é feita através do sistema binominal, ou seja, é composta por duas palavras: um gênero, escrito com letra maiúscula, e um epíteto, escrito com letra minúscula, que unidas formam o nome científico que, no caso do panda-marinho, foi descrito como Clavelina ossipandae.

Conforme Lotufo, a partir do momento em que um pesquisador se depara com um material que não consegue encaixar em nenhuma das espécies já descritas, ele toma a decisão de descrevê-la como uma nova espécie. O primeiro passo é relatar uma descrição pormenorizada, justificando as características do animal e os motivos pelos quais ele tem que ser encaixado em uma nova espécie.

O especialista explica que o trabalho é publicado em uma revista ou jornal científico para que outros especialistas possam analisar as justificativas. “Esse trabalho, uma vez submetido, é avaliado pelos da área que vão verificar se aquela realmente é uma descrição que representa uma nova espécie. Se estiver convincente, o trabalho é publicado e distribuído para um determinado número de organizações e então o nome passa a ser válido”, relata.

 

Processo de estudos

Segundo o docente, a caracterização e classificação de uma nova espécie, além de sua descrição genética, são apenas os passos iniciais do processo de estudos. Ele explica que o trabalho do taxonomista, profissional responsável pela identificação e descrição de novos animais, é encerrado após essa análise primária e, após isso, abre-se uma enorme variedade de novas possibilidades para serem pesquisadas e estudadas.

“Os pesquisadores podem abrir agora um leque de outras possibilidades. Será que essa Ascídia produz algum composto interessante que possa ter aplicação biomédica? Será que aquele organismo tem um papel relevante no funcionamento daquele ecossistema? Então nada disso ainda está desvendado, tem muito ainda para ser feito”, expõe.

 

Preservação marinha

Conforme Tito Lotufo, grande parte dos ambientes do nosso planeta exerce um papel importante na própria manutenção da vida na Terra e os oceanos, em específico, são um grande regulador do clima no mundo. Nesse sentido, para que esses sistemas possam continuar exercendo suas funções normais e oferecer os serviços ecossistêmicos corretamente, eles têm que estar funcionando adequadamente em seu equilíbrio natural. 

O professor conta que, quando o ser humano gera um impacto no meio ambiente, extinguindo espécies, poluindo o ambiente, destruindo e aquecendo o planeta, ele está mudando a configuração normal do funcionamento de um ecossistema. Esse processo, explica, impacta os próprios serviços que aqueles sistemas oferecem para a população humana. “A biodiversidade não está ali simplesmente existindo, ela está interagindo com o meio ambiente e com outras espécies. Todas as espécies têm um determinado papel ecológico, então quem somos nós para dizer quem deve ou não existir?”, finaliza.

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira

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