Orca é baleia ou golfinho? Pesquisador responde 42 perguntas sobre mamíferos marinhos

Fonte: Jornal da USP

Em seu terceiro e-book gratuito sobre cetáceos, pesquisador da USP esclarece para o público geral dúvidas recorrentes relacionadas a esses animais

Orca é baleia ou golfinho? A baleia-azul é o maior animal que já apareceu no planeta? Uma baleia pode afundar um barco como nos filmes Moby Dick e No Coração do Mar? Baleias falam “baleiês”? Por mais simples que pareçam essas perguntas, Marcos César de Oliveira Santos, pesquisador do Instituto Oceanográfico (IO) da USP, afirma que as respostas ainda são bastante inacessíveis à sociedade. Buscando solucionar essas e outras dúvidas frequentes, Marcos escreveu seu terceiro livro sobre mamíferos marinhos, Orca é baleia ou golfinho? As perguntas mais comuns sobre os cetáceos finalmente respondidas, que está disponível gratuitamente para download no portal do Laboratório de Biologia da Conservação de Mamíferos Aquáticos (LABCMA) e pode ser conferido neste link

O e-book reúne, em 412 páginas, 42 perguntas diversas acerca de baleias, botos e golfinhos — os chamados cetáceos — que poderiam ter sido elaboradas por qualquer pessoa. Trata-se de um conteúdo direcionado a um público amplo, não necessariamente composto de cientistas. 

A cada capítulo, uma pergunta, e a cada pergunta, uma explicação completa, mas sem academicismos, pontua o autor na apresentação do livro: “Procurei elaborar as respostas com uma linguagem compreensível a quem não é cientista […] Foi a audiência não cientista que gerou esse número de perguntas frequentes. Todas as perguntas são relevantes”.

Por que essas dúvidas nunca foram oficialmente sanadas no País? Segundo o professor, o Brasil carece de projetos destinados ao desenvolvimento de pesquisas relacionadas a esses animais. “O País não insere os cetáceos em nenhum programa pedagógico, tampouco conta com políticas públicas voltadas à pesquisa e à conservação desses mamíferos […]”, explica. Marcos estuda o assunto há 20 anos, mas devido à escassez de referências, precisou investigar por conta própria grande parte da temática.

"Escrevi um livro que adoraria ter lido quando estava no curso superior em Biologia, quando não ouvi uma menção sequer sobre esses mamíferos em cinco anos de estudos.”

Marcos César de Oliveira Santos, na apresentação do livro

O propósito do autor de socializar sua extensa pesquisa sobre os cetáceos também está presente nos dois outros livros que escreveu. Baleias e Golfinhos (1996) e Baleias e Golfinhos no Litoral Paulista: estórias que contam uma bela história (2021) visam, similarmente, a combater a desinformação e “comunicar ciência a não cientistas”, em suas palavras. Ele conta que o primeiro expandiu os apontamentos sobre os cetáceos e foi um grande passo em sua vida, já que não havia um material didático diverso traduzido para a língua portuguesa — e ainda não há, reforça. No segundo, o trabalho também foi árduo: “Eu praticamente traduzi 70 artigos científicos que publiquei em inglês e em ‘cientifiquês’ para uma linguagem não acadêmica e em português”. 

Curadoria de perguntas

Desta vez, o professor Marcos decidiu elaborar uma extensa curadoria de perguntas e responder uma por uma. Uma vez que os questionamentos propostos no livro são bastante curiosos, o leitor pode vir a se perguntar: como este imenso leque de perguntas foi produzido? A resposta está na divisão das seções do livro, que dividem os capítulos nos seguintes grupos: EtimologiaHistória de vida dos cetáceosFato ou fake? A vida imita a arte? e Rumos profissionalizantes. O professor Marcos explica cada um deles: 

Etimologia

“Em um país com dimensões continentais como o Brasil, seria esperado que ruídos ao conhecimento sobre um grupo de animais ainda desconhecido desde os níveis escolares residissem na origem das palavras e na força de uso de como elas foram transformadas ao longo do tempo”, afirma. O pesquisador cita como exemplo o uso incorreto da palavra “barbatana” pelo senso comum, algo que ele esclarece em seu e-book.

História de vida dos cetáceos

As perguntas desta seção, segundo o professor Marcos, se referem “ao que se relaciona à biologia e ao comportamento desses belos organismos”. A partir daí, surgem as dúvidas: Quanto tempo vivem? Como amamentam? Eles dormem? Há casos de gêmeos? Por que saltam? Por que encalham em praias? Todas as respostas estão contidas no livro em uma “linguagem descontraída”, como descreve o autor.

Fato ou fake? A vida imita a arte?

Essas duas seções consistem em “duas avenidas de pavimentação de informações repletas de ruídos: a internet e o cinema”, explica o professor. A representação dos cetáceos nas mídias sociais e nos filmes produz estereótipos e caricaturas. "Outro dia vi na internet que um mergulhador foi engolido e 'cuspido' por uma baleia; é verdade isso?", "Baleias falam baleiês?" A explicação dessas narrativas construídas pelos meios de comunicação também estão no e-book.

Rumos profissionalizantes

O pesquisador também visa a auxiliar os interessados na área, por isso, no fim do livro há orientações aos apaixonados por baleias e golfinhos. “Como uma parte da audiência é composta de jovens com interesse em estudar baleias e golfinhos, eu fecho o livro direcionando duas perguntas efetuadas por esse público”, pontua.

Mas afinal, orca é baleia ou golfinho?

Por mais que a nomenclatura comum seja “baleia orca”, a orca é considerada um tipo de golfinho. O professor Marcos explica que essa confusão se dá porque o termo “baleia” é utilizado, no vocábulo popular, para designar animais aquáticos de grande porte. Mas, ele afirma que, na ciência, o tamanho não é uma característica adequada para classificar os organismos em grupos.

Na verdade, a característica definitiva é a presença de dentes. As baleias — tecnicamente chamadas de cetáceos misticetos — possuem barbatanas ou cerdas bucais para capturar o alimento. Já os golfinhos, nomeados cetáceos odontocetos, possuem dentes. Como as orcas portam essa característica, pertencem ao grupo dos golfinhos, constata o pesquisador.

A indicação das distintas estruturas presentes na boca dessas duas espécies para apreender alimento: as barbatanas, no caso dos misticetos, e os dentes, no caso dos odontocetos - Arte: Leandro Coelho

Nadadeira caudal de uma "baleia jubarte" - Foto: Marcos Santos/IO USP

O pesquisador conta que seu novo e-book é resultado de 30 anos de interlocução com a audiência não cientista. Uma reflexão profissional durante a pandemia fortificou seu interesse em acessibilizar a ciência dos cetáceos; agora, busca “lapidar o legado, baseado na comunicação de ciências a não cientistas com o foco nos mamíferos que estudo há três décadas”, diz.

O livro está disponível gratuitamente na internet e pode ser baixado na versão de alta qualidade ou numa versão compactada neste link.

Além do novo e-book, o LABCMA acaba de lançar seu novo podcast Falando Baleiês. O primeiro episódio já está disponível no Spotify; em breve, será disponibilizado gratuitamente no site do laboratório. Mais informações e outros conteúdos como livros, vídeos e jogos lúdicos sobre as pesquisas também podem ser encontrados na página on-line do LABCMA.

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