EX-ALUNOS EMOCIONAM COM MENSAGEM PÓSTUMA AO PROF. EDMUNDO NONATO

Professor completaria 100 anos em junho de 2020 e deixa importante legado para a Ciência Brasileira

Por Gabriel Monteiro e Monica Petti 19.06.2020

Edmundo Ferraz Nonato.jpg

A Dra Monica Petti, Curadora da Coleção Biológica “Prof. Edmundo F. Nonato” do Instituto Oceanográfico da USP (ColBIO) e alguns ex-alunos do Prof. Edmundo Ferraz Nonato (1920-2014) reuniram-se para enviar mensagem póstuma a um dos mais versáteis cientistas que o Brasil já teve.

“Neste ano, o Professor - como o chamávamos carinhosamente - completaria 100 anos. Achamos justo e necessário realizar nossa homenagem. Não contamos com uma grande produção, devido à pandemia, mas os relatos filmados carregam muito sentimento” explica Petti.

Assista um pequeno recorte da mensagem destinada ao Professor Nonato:

Além do rápido vídeo de agradecimento, os ex-alunos do Professor Nonato se dedicaram a elaborar um vídeo mais longo, uma espécie de documentário, compartilhando histórias e relatos pessoais que evidenciam a importância do Professor Nonato para suas vidas e para Ciência Brasileira. A versão completa pode ser acessada neste LINK.

⠀⠀⠀⠀

VERSATILIDADE CIENTÍFICA

O Professor Nonato foi precursor da Oceanografia no Brasil, pioneiro nos estudos de ecologia bentônica, reconhecido nacional- e internacionalmente por suas contribuições no estudo de anelídeos marinhos e na formação de pesquisadores atualmente ilustres no cenário científico.

Juntamente com outros colegas do IOUSP, ele implementou a base de pesquisas e de estudos oceanográficos Clarimundo de Jesus do IOUSP, em Ubatuba, litoral norte do Estado de São Paulo. Como primeiro chefe científico da Base equipou os laboratórios e as embarcações costeiras com instrumentos oceanográficos. Sua atuação extrapolou as barreiras geográficas e trabalhou para estruturar o crescimento da Oceanografia no Brasil.

Desde o início de suas contribuições oceanográficas, o Professor Nonato defendeu a importância de embarcações para estudos oceanográficos, bem como o investimento em equipamentos de vanguarda para a época, como ecossonda, radar, sistema de rádio e depois veio o GPS.

Um perfil com suas atividades acadêmicas e com algumas características marcantes pode ser encontrado em obituário escrito por alguns de seus ex-alunos em 2017 e publicado no Journal of Marine Biological Association of United Kingdom.

⠀⠀⠀⠀

VERMES MARINHOS

Os poliquetas, anelídeos marinhos, foram os invertebrados ao qual se dedicou a estudar com profundidade. Contribuiu para a literatura com trabalhos a respeito da ecologia e taxonomia desse grupo, tendo descrito um grande número de espécies do litoral brasileiro.

O Professor Nonato também foi pioneiro nos estudos destes organismos e seu legado para a Ciência Brasileira foi muito além de suas publicações em revistas específicas: formou uma equipe de relevantes cientistas que compõem atualmente um respeitável grupo brasileiro de “poliquetólogos”.

Muitas gerações de biólogos marinhos e oceanógrafos tiveram ligação direta ou indireta com o Professor Nonato. Graças à formação destes profissionais, mais de 50 pesquisadores brasileiros atualmente trabalham em taxonomia e ecologia de poliquetas. “Temos sido a maior delegação de pesquisadores nos congressos internacionais de poliquetas” afirma Dr Paulo Paiva, Professor Titular do Departamento de Zoologia do Instituto de Biologia da UFRJ.

⠀⠀⠀⠀

MESTRE DA VIDA

É um consenso entre todos os seus ex-alunos que ele desempenhou mais que o papel de um professor. Ele se mostrou um mestre que orienta aspectos da vida, não apenas relacionados a um ofício científico.

“Possuidor de uma cultura científica enorme e uma cultura geral fascinante, Nonato sempre foi uma pessoa modesta. Sempre teve uma postura muito comedida, muito discreta. Muito distante da postura de tanta vaidade e tanta empáfia que caracteriza os cientistas de uma maneira geral” expõe Dr Paulo Lana, Professor Titular do Centro de Estudos do Mar da UFPR.

⠀⠀⠀⠀

MERGULHANDO DE CABEÇA

A paixão pelo oceano levou o Professor Nonato para o fundo do mar antes que qualquer outro brasileiro. Ele foi o primeiro no Brasil a receber e utilizar o aparato para mergulho autônomo desenvolvido pelo francês Jacques-Yves Cousteau e sua equipe. Formado em mergulho pelo Clube Submarino Alpino de Cannes em 1953, ele já previa como o mergulho seria importante em estudos oceanográficos no Brasil.

O primeiro mergulho científico autônomo do Instituto Oceanográfico da USP não aconteceu em águas brasileiras, mas sim nas gélidas águas antárticas. O Professor Nonato montou uma equipe de alunos mergulhadores e os enviou na Operação Antártica VI no verão austral de 1987/88, juntamente com pesquisadores mergulhadores alemães, o que deu início a vários estudos de ecologia bentônica na Baía do Almirantado, onde se encontra a Estação Antártica Brasileira “Comandante Ferraz”.

A maior parte das amostras bentônicas coletadas nas expedições antárticas brasileiras está depositada na Coleção Biológica do IOUSP. Muitas delas fizeram parte de artigos publicados com coautoria do Professor Nonato.

⠀⠀⠀⠀

DEIXANDO SUA MARCA

Atribuir o nome de uma pessoa a uma rua ou viaduto é uma forma de homenagem. Na ciência funciona da mesma forma, porém os nomes das pessoas são atribuídos a espécies, quando descritas. Não foi diferente com Professor Nonato. Muitos pesquisadores batizaram a espécie que descreveram com o nome Nonato.

ESPÉCIES NONATO.jpg

Também uma base de dados interativa homenageou o Professor Nonato. “NONATObase” disponibiliza e compartilha uma série de informações sobre poliquetas do Oceano Atlântico Sudoeste.

Já o Instituto Oceanográfico da USP decidiu expandir esta homenagem e atribuiu o nome do Professor Nonato à sua Coleção Biológica. Assim, seu nome passou a ser sinônimo de proteção e manutenção de dados e amostras biológicas coletadas ao longo de cerca de 70 décadas pelo Instituto Oceanográfico da USP.

Seu nome também foi honrado em 2019 no Espaço Didático durante as comemorações dos 65 anos da Base de Pesquisa do IOUSP em Ubatuba, SP.

Prof. Nonato ColBIO.jpg

Prof. Nonato na inauguração da coleção biológica que leva seu nome, no Instituto Oceanográfico da USP.

Comunicação Institucional

Eloisa Maia

22/06/2020

Compartilhe