Pesquisa busca desenvolver exploração sustentável no Atlântico Sul

Originalmente publicado em: Agência Universitária de Notícias. 08/05/2017.

Instituto Oceanográfico estuda métodos para manejo e mineração em cadeia montanhosa submersa.

mailaguilhonNo ano de 2014, o Brasil recebeu permissão para explorar a Área de Elevação do Rio Grande. Localizada a cerca de 1.300 quilômetros da costa do Estado do Rio Grande do Sul, a região, rica em minérios, conta com uma cadeia montanhosa situada à aproximadamente 4.000 metros de profundidade. Visando um manejo sustentável, pesquisadores do Instituto Oceanográfico (IO) da USP elaboraram um Planejamento Espacial Marinho, para garantir a conservação do ambiente em meio à futura extração.

Segundo a pesquisadora Maila Guilhon, a região localiza-se no meio do Atlântico Sul, portanto, fora dos limites da jurisdição brasileira. Tal fato obrigou o país a pleitear permissão, concedida pela Organização das Nações Unidas (ONU), para exploração do território durante 15 anos.

Um estudo preliminar construído pelo Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira (Leplac), aponta a cadeia submersa como grande detentora de crostas cobaltíferas. A formação também apresenta estruturas de nódulos polimetálicos, sulfetos e fosforitos, o que caracteriza a região como rica em cobalto, níquel e ferro — matéria prima para desenvolvimento de células fotovoltaicas e baterias de smartphones.

Uma das principais vertentes do trabalho, que envolve a pesquisadora Maila, seria tentar compreender qual a melhor forma de viabilizar a mineração sem degradar o ambiente. O plano visa indicar quais são os habitats, formações, atividades antrópicas no local, ocorrências de biodiversidade na região e a maneira como estão distribuídas, bem como discutir futuros cenários de mudanças climáticas.

Existe uma grande preocupação associada a possíveis impactos de uma eventual exploração sobre as comunidades biológicas presentes em montes submarinos, uma vez que é sabido que estas possuem processos de crescimento e maturação muito lentos e, uma vez extraídas ou prejudicadas pelo processo de mineração, não se sabe ao certo quanto tempo tais comunidades levariam para se restabelecer.

Tomando como base de estudo exemplos de áreas no mundo onde já ocorre este tipo de exploração, como na Cordilheira Meso Atlântica Norte (MAR) e no Clarion Cliperton Zone (CCZ) no Pacífico, o objetivo é não comprometer os serviços ecossistêmicos da região e a manutenção das comunidades biológicas durante o período de exploração.

Pela primeira vez no mundo, esta extração mineral oceânica será feita exclusivamente para fins econômicos, levando o nome de explotação. No entanto, a atividade de exploração da Elevação do Rio Grande não envolve apenas um seleto grupo — muitos pesquisadores, agências governamentais e universidades estão envolvidos na questão.

A estratégia baseia-se no desenvolvimento de um plano de manejo ambiental, criando diretrizes para indicar quais são os habitats, formações, ocorrências de biodiversidade na região e a maneira como estão distribuídas. Com isso, é possível concluir quais seriam os potenciais impactos causados por uma exploração mineral na zona oceânica. A partir do panorama adquirido sobre as consequências das atividades antrópicas, maximiza-se a proteção do local e mantém-se, caso seja viável, atividades de interesse econômico.

“Hoje em dia, com a chegada da tecnologia é que começamos a pensar no que podemos fazer para garantir a conservação do alto mar. O importante é o equilíbrio entre todos os fatores”, conclui Maila.

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