Biodiversidade marinha brasileira ganha série com 10 livros
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- Publicado: Quarta, 29 Março 2017
Originalmente publicado em Agência FAPESP. 29/03/2017.
Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – A biodiversidade marinha no Brasil ganhará uma série com 10 livros em inglês voltados para estudantes, pesquisadores e demais interessados em conhecer os ambientes costeiros.
Alexander Turra, professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP) e editor-chefe do projeto, explica que a série Brazilian Marine Biodiversity é resultado de um trabalho crescente que começou com a criação da Rede de Monitoramento de Habitats Bentônicos Costeiros (ReBentos), criada com apoio da FAPESP no âmbito de um acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para consolidação do Sistema Nacional de Pesquisa em Biodiversidade (Sisbiota).
“Temos pouco material publicado em língua portuguesa sobre biodiversidade marinha e a abordagem que usamos nessa série é nova. Optamos por trabalhar os habitats não apenas do ponto de vista da biodiversidade, mas do funcionamento do ecossistema e das ameaças que ele sofre. Vamos tratar de aspectos mais funcionais desses ambientes”, disse Turra.
A costa brasileira e sua diversidade de vegetação e ecossistemas é capaz de armazenar milhões de toneladas de carbono, o que torna o Brasil um bom lugar para testar novos mecanismos para avaliar e conservar o chamado carbono azul – CO2 armazenado em ecossistemas costeiros.
Turra explica que a falta de estudos de longo prazo da biodiversidade tem deixado o Brasil para trás na avaliação global das consequências das mudanças ambientais globais em ecossistemas costeiros. Um dos papéis da ReBentos é ampliar o conhecimento desse assunto não só no meio acadêmico, mas também para estudantes e o público geral.
Com o auxílio do programa Sisbiota foi possível estruturar a rede de pesquisadores sobre a temática da biodiversidade marinha e mudanças climáticas. “De certa forma, a ReBentos induziu no Brasil o estudo desse casamento entre mudanças climáticas e organismos bentônicos”, disse Turra, um dos criadores da rede, à Agência FAPESP.
A ReBentos reúne 166 pesquisadores em toda a costa brasileira, pertencentes a 57 instituições de ensino e pesquisa nacionais e internacionais com atuação nos 17 estados costeiros.
Não por acaso, os 10 livros seguem a mesma divisão dos oito subgrupos criados na ReBentos que também são os habitats dos animais bentônicos: bancos de rodolitos, costões rochosos, estuários, fundos submersos vegetados, educação ambiental, manguezais e marismas (pântanos salgados), praias e recifes coralinos. Há ainda mais dois livros, sobre plataforma continental e ervas marinhas.
“A série apresenta uma análise do papel da biodiversidade e da importância dos serviços ecossistêmicos. Discute também as ameaças a cada habitat, como poluição, espécies invasoras e mudanças ambientais globais”, disse Turra.
Os livros da série Brazilian Marine Biodiversity:
1) Estuaries Editores: Paulo da Cunha Lana (UFPR) e Angelo Fraga Bernardino (UFES) |
Estuários são ecossistemas costeiros que incluem uma variedade de habitats com dinâmica, fauna e sedimentos próprios. A combinação de mudanças em hidromorfologia e clima representa graves ameaças aos ecossistemas estuarinos em escala global. |
2) Deep sea habitats Editores: Paulo Yukio Gomes Sumida (USP), Angelo Fraga Bernardino (UFES) e Fábio Cabrera De Léo (University of Victoria) |
Os habitats de profundidade são parte importante do território brasileiro, responsáveis por um aumento na biodiversidade nacional. |
3) Shallow continental shelf habitats |
A plataforma continental é um dos habitats marinhos mais impactados no Brasil. Não só a pesca como a exploração de petróleo e gás representam importantes ameaças à biodiversidade. |
4) Marine and Coastal Environmental Education Editores: Natalia Pirani Ghilardi Lopes (UFABC) e Flávio Berchez (USP) |
A importância da Educação Ambiental Marinha é ainda maior diante de mudanças nos ambientes costeiros e marinhos que devem afetar negativamente os ecossistemas brasileiros. No entanto, até o momento apenas 32 contribuições relacionadas a esse tema foram publicadas no Brasil. |
5) Rhodolith beds Editores: Paulo Antunes Horta (UFSC), Marina Nasri Sissini (UFSC) e Pablo Riul (UFPB) |
Rodolitos costeiros formam oásis de alta biodiversidade entre ambientes sedimentares do leito marinho. Compostos por camadas de rodolitos ou nódulos de algas calcárias não articuladas e seus componentes, representam uma extraordinária biofábrica de carbonatos. |
6) Rocky shores Editores: Ricardo Coutinho (IEAPM) e Ronaldo Christofoletti (Unifesp) |
No Brasil, os costões rochosos estão concentrados nas costas Sul e Sudeste. Existem diferentes tipos de substratos e paisagens marinhas com elevada heterogeneidade ambiental e responsáveis por hospedar alta biodiversidade. |
7) Sandy beaches Editores: A. Cecília Z. Amaral (Unicamp), Guilherme Nascimento Corte (Unicamp) e Hélio Hermínio Checon (Unicamp) |
As praias brasileiras constituem um ecossistema-chave que fornece valores socioeconômicos e de serviço. Elas desempenham um papel importante na manutenção das populações humanas e na conservação da biodiversidade. |
8) Vegetated bottoms Editores: Margareth da Silva Copertino (FURG) e Joel Christopher Creed (UERJ) |
Ervas marinhas estão entre os ecossistemas mais ameaçados da Terra. O conhecimento dos padrões e processos predominantes que governam as ervas marinhas ao longo da costa brasileira é importante para a discussão global sobre as mudanças climáticas. |
9) Mangroves and salt marshes Editores: Yara Schaeffer-Novelli (USP), Catarina Lira (Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro), Guilherme Abuchahla (Instituto BiomaBrasil) e Gilberto Cintrón-Molero (Instituto BiomaBrasil |
O Brasil tem uma das maiores áreas de mangues do mundo. Algumas características dos mangues e marismas os fazem extremamente sensíveis a mudanças ambientais, fazendo dos ecossistemas excelentes indicadores de mudanças ambientais. |
10) Coral reefs Editores: Rodrigo Johnsson (UFBA), Elisabeth Neves (UFBA), Zelinda Leão (UFBA) e Ruy Kenji P. Kikuchi (UFBA) |
Os diferentes tipos de recifes de corais no Brasil sofrem com a ação do homem, principalmente no que se refere ao aumento da sedimentação devido à remoção da Mata Atlântica e ao descarte de efluentes industriais e urbanos. |
Os livros serão lançados a partir do segundo semestre de 2017 pela Springer e serão vendidos pelo site da editora. Mais informações: www.springer.com/series/15050.