Descoberta de recirculação de corrente oceânica traz avanços científicos

Originalmente publicado em: Agência Universitária de Notícias. Ano 48 nº 29. 30/04/2015.

Novos conhecimentos a respeito do Vórtice Potiguar ampliam horizontes oceanográficos do Rio Grande do Norte.

oceano fotoO chamado Vórtice Potiguar, recirculação da corrente que flui ao largo do Rio Grande do Norte (Subcorrente Norte do Brasil), foi caracterizado pela primeira vez em pesquisa do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP). O trabalho, desenvolvido pela doutoranda Ana Paula Morais Krelling a partir de descoberta acidental feita durante a realização de outro estudo do Instituto, foi o primeiro de um convênio realizado entre a USP e a Universidade de Massachusetts (UMASS), além de contar com a ajuda da Petrobras.

A área estudada foi a porção oceânica adjacente ao estado do Rio Grande do Norte, região pertencente à chamada Margem Equatorial Brasileira. Considerando que o conhecimento da oceanografia física da região em questão é bastante escasso, o trabalho de Ana Paula representa um grande salto na compreensão das correntes locais: “Uma vez que não temos condições de coletar dados em cada pequena região do oceano, inicialmente imaginava-se que a corrente somente seguia seu curso para noroeste. A descoberta dessa recirculação e a determinação de suas características incrementa o conhecimento necessário para a compreensão do transporte e dispersão de larvas de organismos na região, bem como de componentes químicos e nutrientes necessários à vida dos organismos presentes na água”.

Além disso, avanços foram alcançados no que diz respeito ao conhecimento necessário para a exploração de petróleo e gás na região, dado que o conhecimento das correntes na área é indispensável para o planejamento e sucesso de projetos de perfuração de poços.

Metodologia e resultados

Compreender e caracterizar essa recirculação recém-identificada foi possível através da análise de múltiplos databases, incluindo dados de temperatura, salinidade e velocidade da água do mar adquiridas pela Marinha do Brasil; dados de altura da superfície do mar, adquiridos por satélite; dados de velocidade da água do mar, em diversas profundidades, em duas localizações na costa do Rio Grande do Norte, de propriedade da Petrobras.

Por fim, foram realizadas simulações numéricas utilizando a técnica de modelagem de feição na abordagem chamada estudo de processo. “Essa técnica, com essa abordagem, possibilita que isolemos somente os processos que acreditamos ser importantes para determinada feição, o que facilita a interpretação dos resultados, uma vez que o número de variáveis envolvidas é drasticamente reduzido”, explica a pesquisadora.

Ao fim do estudo, concluiu-se que o Vórtice Potiguar tem formato elíptico e tamanho considerável, medindo cerca de 300 km na direção paralela à costa e 150 km na direção perpendicular à mesma. Verticalmente, essa recirculação tem cerca de 300 m de extensão, se estendendo de cerca de 100 a 400 metros de profundidade. Foi identificado também que a recirculação possui uma variabilidade característica, se intensificando ou enfraquecendo a cada 30 dias, aproximadamente. Essa variabilidade parece estar associada a ondas que se propagam por grandes distâncias no Oceano Atlântico: “A partir de modelagem numérica, identificamos que a física dessa feição não é intrinsecamente relacionada com a existência de outras correntes na região, mas sim com a Subcorrente Norte do Brasil em si e com o relevo do fundo oceânico na área”, completa Ana Paula.

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