Análise de metais na Lagoa de Itapeva mostra que ambiente ainda é saudável

Publicado originalmente em: Agência Universitária de Notícias. Ano 48. Número 05. 10/02/2015.

Apesar de algumas amostras coletadas sofrerem alterações ao longo dos anos, com destaque especial para o arsênio, níveis de metal não determinaram poluição.

lagoa itapevaEstudo recente realizado no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP) teve o objetivo de estudar a concentração de seis metais pesados, arsênio e fósforo, através do fator de concentração, fator de enriquecimento e do Polluiton Load Index na Lagoa Itapeva, Rio Grande do Sul. O destaque dos resultados foi encontrada na porção sul da área, que apresentou as maiores concentrações de todos os elementos analisados, revelando a importância do Três Forquilhas como fonte de metais pesados, fósforo e arsênio, com destaque para este último elemento.

A autora da tese, a aluna recém-graduada, Carolina Miyoshi, utilizou, para a pesquisa, três coletas distintas de testemunhos rasos, nas porções norte (T1), centro (T2) e sul (T3) da Itapeva. Dessas três áreas, apenas a última tem influência externa do Rio Três Forquilhas. A metodologia empregada consistiu na Espectrometria de Emissão Óptica com Plasma Indutivamente Acoplada (ICP-OES), seguindo a metodologia SW 846 US EPA 6010b. "Para fazer a reconstrução ambiental, fizemos a geonecrologia recente, adaptação pelos anos, e datamos cada parte da coluna sedimentar", completa Carolina. Já o procedimento de digestão dos metais seguiu a metodologia SW 846 US EPA 3050b, e para saber se a região estava contaminada, ou não, os níveis TEL e PEL foram utilizados como base no projeto.

 

Aumento do arsênio a partir do século 19

Dos resultados encontrados, segundo a pesquisadora, o que se mostrou mais interessante foi o arsênio, que apresentou um pico na concentração em 1935, na porção T3. "Além disso, uma queda brusca de 1935 até 1948 também aconteceu na região. Através de pesquisas do histórico da área foi possível concluir que a colonização da região, datando do final do século 19, começo do 20, teve desmatamento e a ocupação de várias famílias”, diz. “Com isso, começaram as atividades produtivas na porção, e uma das plantações seriam as de cana de açúcar, que utilizavam muito arsênio como agrotóxico anti-pragas”, contniua, “Uma teoria que tenho é que os moradores começaram a utilizar esse agrotóxico, até que chegou em um nível com uma concentração muito alta do elemento. Em seguida, aconteceu uma queda brusca na quantidade do elemento porque na década de 1940 essas plantações cessaram.”

Outros elementos, como o cobre, apesar de terem apresentado alterações, não sofreu enriquecimento segundo os índices de geoacumulação. Já para o arsênio, o fator de enriquecimento também ficou acima do limite, e por isso, um estudo mineralógico e geoquímico da região deve ser feito para saber se as fontes causadoras desse acréscimo são naturais ou antrópicas. Já o Polluiton Load Index, que considera ambientes acima de 1 como contaminados por metais, apresentou como resultado 1,2. Como os metais pesados tendem a se depositar nos grãos mais finos, e esse método não levar em conta nem granulometria da área, nem o fator tóxico de cada elemento, ele não é considerado preciso.

 

Lagoa de Itapeva é saudável

lagoa itapeva2A pesquisadora ainda acredita que parte do esgoto da região é jogado na Lagoa, pela presença de dois córregos próximos à sua localização. O fósforo, que é o metal encontrado no esgoto, de modo geral, não apresentou índices elevados de concentração. Somente na base do testemunho T3 pode-se observar um leve aumento, mas as causas podem ser explicadas com a mesma colonização dos séculos 19 e 20. "Mas esse aumento também pôde ser causado pela ocupação da área perto do Três Forquilhas. Conforme os moradores iam desmatando, pode ter acontecido a lixiviação do solo, o que levou muito fósforo para esse ponto", contrapõe.

Ainda é preciso analisar com mais precisão se o solo da região está contaminado com arsênio ou não, visto que uma das atividades mais produtivas em torno da Itapeva é a plantação de arroz em solo alagado. E como o arroz é capaz de absorver e acumular o arsênio disponível nos solos, ele pode prejudicar a saúde humana. Na Europa, o arroz já é responsável por cerca de 50% da ingestão de arsênio inorgânico pela população. Por fim, as análises comprovaram que a Lagoa é saudável, e pode ser usada como referência para comparação entre outras lagoas da região.

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