Ambiente marinho é prejudicado pela poluição por microplástico
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- Publicado: Terça, 20 Janeiro 2015
Originalmente publicado em: Agência Universitária de Notícias. Ano 48. Número 02. 20/01/2015.
Entrada de “pellets” nos ambientes marinhos e costeiros pode trazer graves consequências aos ecossistemas e até mesmo aos seres humanos. Diretrizes e ações por parte de órgãos públicos e privados são necessárias no Brasil.
Visando analisar a origem da poluição por microplásticos – grânulos de matéria plástica com menos de 5 milímetros de diâmetro, também chamados de “pellets” – nos oceanos, suas consequências e possíveis soluções para o problema, a pesquisadora do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP), Flávia Cabral Pereira, desenvolveu seu estudo de mestrado. Atualmente, a poluição marinha por microplástico, material encontrado em diversos ambientes marinhos e costeiros do Brasil e do mundo, é uma grande preocupação, principalmente em função de sua elevada capacidade de dispersão e resistência à degradação.
Comumente componentes do lixo marinho, os pellets provavelmente chegam aos oceanos através de perdas acidentais durante o transporte oceânico ou do escoamento por drenagem de perdas de processos industriais. Encontrados em áreas próximas a centros urbanos e portos, e até mesmo em alto mar, apenas três ocorrências da presença do material foram formalmente publicadas no Brasil, na cidade de Santos, São Paulo, em Tamandaré, Pernambuco, e Fernando de Noronha. Porém, coletas do Projeto Marplast, convênio entre a Plastivida e o IO, revelam que outras praias em São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro de Santa Catarina também são alvo do contaminante.
O objeto de estudo da tese são os microplásticos primários, resinas termoplásticas que podem ser transportados na forma de grãos ou pó. “Uma visão macro utilizada como critério de análise para este trabalho permite identificar duas fases distintas na cadeia dos plásticos como um todo: pré-consumo e pós-consumo. Estes microplásticos podem ser considerados como existentes apenas na etapa pré-consumo, tendo em vista que são produzidos pelas indústrias de segunda geração (produtoras) e moldadas nas indústrias de terceira geração (transformadoras). Então, a partir daí, eles dão origem aos mais diversos produtos plásticos que chegam ao consumidor final, como embalagens, brinquedos, componentes automotivos, utilidades domésticas, peças para a indústria eletroeletrônica e para a construção civil, dentre uma infinidade de outras aplicações”, completa Flávia.
Essas partículas são um problema em potencial aos organismos vivos, uma vez que a ingestão de plástico pode gerar bloqueio intestinal ou úlceras no estômago, reduzindo a absorção de nutrientes, além de provocar uma falsa sensação de saciedade e alterações hormonais prejudiciais à reprodução dos animais. “Além disso, a superfície dos pellets pode absorver poluentes orgânicos persistentes (POPs), como PCBs (Bifenispoliclorados) e DDTs (DicloroDifenilTricloetano), contaminando os animais que os ingerem e causando problemas hormonais, o que pode acarretar em alterações nas taxas de crescimento e reprodução, inclusive levando à morte. Ainda, aditivos químicos como corantes e antioxidantes, comumente adicionados à composição das resinas termoplásticas para alterar suas características naturais e aprimorar seus usos finais podem ser tóxicos provocando efeitos nocivos aos organismos”, afirma a pesquisadora.
Brasil precisa de soluções
No âmbito internacional, o problema da poluição por microplásticos já teve algumas iniciativas desenvolvidas, como é o caso do programa “pellet zero”, ancorada no programa Operation Clean Sweep (OCS). O programa consiste na apresentação de um manual com orientações para auxiliar a gestão das operações nas indústrias de plástico, com o objetivo de reduzir a perda do composto para o ambiente.
No caso brasileiro, a simples tranposição dos programas internacionais para a realidade do país não resolveria o problema, porque primeiramente é necessário levantar informações sobre a produção e a logística das indústrias, dados que ainda não estão disponíveis no país. “Além disso, não é possível absorver diretamente os manuais produzidos por outros países em uma proposta nacional, tendo em vista que realidades diferentes refletem problemas, lógicas e, consequentemente, soluções distintas. Importar uma solução proposta em outro contexto e realidade incorre, em grande probabilidade, na geração de resultados ineficientes e incoerentes, não adequados para solucionar o problema em questão”, explica.
Para Flávia, a resolução do problema vem através de uma interlocução entre iniciativa privada, órgãos públicos do poder e sociedade civil. “A solução do problema de forma integrada e sistêmica perpassa pelo envolvimento dos principais atores mapeados , como proposto pela Estratégia de Honolulu, que marca uma nova abordagem transetorial para ajudar a reduzir a ocorrência de lixo marinho, bem como os danos que esses resíduos provocam nos habitats marinhos, na economia global, na biodiversidade e na cadeia alimentar humana.”