Acidificação dos oceanos pode causar consequências graves ao ecossistema
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- Publicado: Quinta, 04 Dezembro 2014
Publicado originalmente em: AUN - Agência Universitária de Notícias. Ano 47, nº 94. 04/12/2014.
Ações antrópicas já causaram diminuição no pH dos oceanos e tendência é que o quadro piore. Para tentar entender as consequências desse processo, estudo da USP foi realizado com sedimentos costeiros.
Experimentos de acidificação dos oceanos nos processos biogeoquímicos em sedimentos costeiros foram realizados no Brasil de forma pioneira. A proposta da doutora do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP), Betina Galerani Rodrigues Alves, teve o objetivo de quantificar tanto as taxas de remineralização da matéria orgânica e fluxos de nutrientes na interface água-sedimento, como as alterações nessas taxas em resposta a diferentes cenários de acidificação dos oceanos. A análise revelou resultados importantes e ainda desconhecidos sobre os processos biogeoquímicos dos sedimentos costeiros, e ainda mostrou os efeitos da acidificação nessa mesma região.
Método pioneiro
Para realizar os testes, foram realizados experimentos em laboratório, e no oceano utilizando incubação bêntica in situ, ferramenta comumente para estudar procedimentos biogequímicos na interface costeira. As amostras analisadas são da área rasa de Ubatuba, uma região com 6 a 8 metros de profundidade, enquanto que para o experimento in situ, Betina desenvolveu um equipamento especial para as águas rasas, e que pudesse ser submerso por mergulho, não automação. “Na área costeira, o uso da incubação bêntica in situ sempre foi um desafio por causa da baixa profundidade. As câmaras utilizadas possuem motor, e alguns elementos da área costeira impedem sua permanência ali. Além disso, o mergulho autônomo sempre foi um obstáculo para esse tipo de experimento”, completa a doutora. Os dois experimentos obtiveram resultados muito semelhantes, com diferença apenas quanto à acidificação de compostos nitrogenados.
Acidificação e riscos
O estudo apontou que a região marítima estudada não é rica em produção de nutrientes, e possui tendência à nitrificação, um processo químico-biológico de formação de nitrito no solo em conjunto a bactérias quimiossintetizantes nitrificantes. Alto consumo de oxigênio e fluxos positivos de amônio também foram encontrados nos sedimentos, e pôde se apreender que a degradação da matéria orgânica prevalece sobre os processos autotróficos. Dos resultados, foi possível concluir que três processos bioquímicos acontecem na área: remineralização bêntica mediada pela biota bacteriana, excreção de organismos bênticos e fluxos difusivos de solutos do sedimento para a coluna d’água.
Quanto a acidificação marinha, os testes realizados apontam que a diminuição do pH altera os processos de remineralização do carbono orgânico nos sedimentos costeiros, gerando um aumento que varia de 10% a 50% nas taxas dessa remineralização. “Isso gera um aumento da degradação da matéria orgânica que chega em sedimentos marinhos, e ainda não sabemos o que isso pode trazer como consequência. Talvez isso possa interferir na qualidade da matéria orgânica encontrada nos sedimentos”, afirma Betina.