Tratamento com ozônio permite uso de corantes em água de lastro

Agência Universitária de Notícias. Ano 47. Número 42. Publicado em: 06/08/2014

Amostras laboratoriais receberam três tipos diferentes de tratamento antes de eficácia ser testada com corantes. Método que utiliza ozônio não afetou atuação das substâncias

Depois de apontar dois corantes eficientes na detecção de vida ou morte em amostras de microalgas unicelulares cultivadas em laboratório, uma pesquisa teve como base o teste da eficácia desses corantes após as amostras receberem procedimentos utilizados no tratamento da água de lastro. Entre os métodos examinados, o que emprega ozônio para matar os microorganismos se mostrou efetivo em sua função e não alterou a atuação dos corantes, que conseguiram comprovar a competência do próprio tratamento.

Os corantes vermelho neutro e azul de Evans são utilizados, respectivamente, na identificação de microalgas vivas e mortas e podem vir a ser aplicados na água de lastro (água do mar colocada nos tanques dos navios para dar sustentação). Ela costuma ser depositada nas embarcações antes da partida, e descartada em outros portos depois da chegada. Como é retirada direto do mar, transporta vários seres marinhos que, quando lançados em outros habitats ainda vivos, podem se reproduzir e gerar impactos para as espécies nativas daquela região.

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Navio liberando água de lastro, um dos principais vetores para introdução de espécies exóticas.

 

Esse líquido pode receber diversos tratamentos antes de ser lançado ao mar. O objetivo da pesquisa foi verificar se os corantes ainda seriam úteis na detecção da quantidade de indivíduos vivos e mortos em amostras já tratadas por diferentes procedimentos. A aluna de mestrado Izadora de La Volpe Mattiello, responsável pelo estudo, resolveu então utilizar métodos de tratamento de água de lastro em amostras de cinco espécies de microalgas cultivadas em laboratório, para as quais os corantes já haviam sido eficientes.

Como o tratamento com raios UV tem a função de inativar o DNA, impedindo que o microorganismo se reproduza sem matá-lo, os corantes não foram eficientes e não seriam úteis para contemplar o risco que os organismos vivos ofereceriam para o ambiente, caso as amostras fossem de água de lastro. Já o germicida Peraclean, em fase de aprovação para ser utilizado no extermínio de seres vivos em água de lastro, contém substâncias descolorantes que anulam o efeito dos corantes.

O tratamento por gás ozônio, por outro lado, foi eficaz na morte das microalgas, que puderam ser identificadas por ambos os corantes. No caso do vermelho neutro, um corante vital, poucas exibiram coloração nas amostras. Para o azul de Evans, corante mortal, o número de células coradas foi grande.

Segundo Izadora, o método é ainda pouco utilizado para o tratamento de água de lastro e, em alguns países, nem mesmo há pesquisas sobre ele. Apesar de caro, o procedimento se mostrou bastante vantajoso. “O legal do ozônio é que ele não gera resíduos. O Peraclean gera resíduos químicos. Então, os navios teriam que levar em seus tanques, além do germicida, um neutralizante, a fim de que não haja nenhum prejuízo [ao ambiente]”, explicou a bióloga.

Embora o tratamento com raios UV não deixe nenhum tipo de resíduo, ainda não existem métodos consistentes de verificação que comprovem sua eficácia, já que os corantes também não funcionaram. Por outro lado, o tratamento com ozônio, apesar de caro, poderia baratear a verificação dos riscos das águas de lastro nos portos, já que os corantes tem um custo baixo e agem rápido na identificação das microalgas.

 

Protocolo internacional

As pesquisas de Izadora fazem parte de um projeto que visa diminuir e monitorar os impactos da água de lastro sobre os ecossistemas dos portos marítimos. Elas foram inicialmente financiadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e depois pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Em consonância com a Convenção Internacional de Controle e Gestão de Água de Lastro e Sedimentos de Navios, as pesquisas buscam integrar um protocolo da Organização Marítima Internacional (IMO) que está para entrar em vigor. Nesse documento, serão estabelecidos padrões de tratamento e verificação da água de lastro a respeito de espécies invasoras. O protocolo deverá ser seguido por todos os países que o ratificarem.

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