N/Oc. Alpha-Crucis: Três anos servindo ao IOUSP

O dia 30 de maio de 2015 marca os três anos desde a inauguração do Navio Oceanográfico Alpha-Crucis (30/05/2012).

Alpha CrucisO Cerimonial de Inauguração do Navio Oceanográfico (N/Oc.) Alpha-Crucis foi realizado no Terminal Marítimo de Passageiros do Porto de Santos, com a presença de dirigentes da USP, da FAPESP, autoridades municipais e estaduais, além de docentes e alunos do IOUSP.

A embarcação, com 64 metros de comprimento e dotada de modernos equipamentos, representou um enorme salto no desenvolvimento oceanográfico do país e para o IOUSP, que conta ainda com os outras embarcações (Barcos de Pesquisa Alpha Delphini, Veliger II, Albacora e outras embarcações menores).

Adquirido através do “Programa de Equipamentos Multiusuário” da FAPESP, a embarcação foi batizada com o nome da estrela mais brilhante da constelação do Cruzeiro do Sul. A estrela ainda representa o Estado de São Paulo na Bandeira do Brasil.

Os docentes Michel Michaelovitch de Mahiques, Mario Katsuragawa e o Comandante José Helvécio de Moraes Rezende falam um pouco sobre a o navio, sua importância para o IOUSP e para a Oceanografia no Brasil.


Prof. Dr. Mario Katsuragawa1 e Comte. José Helvécio de Moraes Rezende2
1 Presidente do Comitê Gestor de Embarcações do IOUSP
2 Comandante do Navio Oceanográfico Alpha-Crucis

"Os oceanos ocupam cerca de 71% da superfície da Terra. Com profundidade média aproximada de 3800 m, constitui um espaço para a vida 300 vezes maior que aquele ocupado pela soma das águas interiores e terras emersas. Neste aspecto, o Brasil é um país privilegiado, por possuir cerca de 8 mil km de costa e uma área oceânica que, somada à plataforma continental jurídica e à área da zona econômica exclusiva, pode chegar a 4,5 milhões de km2.

Esta vasta área proporciona à Nação inúmeras oportunidades relacionadas a atividades econômicas e sociais, tais como a exploração dos recursos renováveis e não renováveis, o transporte, o lazer, a comunicação e a segurança. O conhecimento do ecossistema marinho, tanto em sua estrutura como na dinâmica dos seus processos, é indispensável para que tais oportunidades sejam realizadas, sem que os ecossistemas marinhos sofram impactos. Esta é a missão da Oceanografia.

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 H.M.S. Challenger - Ilustração: William Frederick Mitchell

Embora o interesse do homem pelo mar remonte a eras pré-históricas, o desenvolvimento da ciência marinha é mais recente, considerando-se o início a partir de meados do século 18. Talvez um marco inicial mais importante das expedições científicas, para a exploração do mar profundo, tenha sido o cruzeiro britânico realizado pelo “H.M.S. Challenger”, em fins do século 19. Se for observada a evolução da oceanografia desde então, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, é possível verificar a forte correlação entre a aquisição de novos conhecimentos sobre o mar e o desenvolvimento dos equipamentos e das embarcações de pesquisa. A oceanografia é uma ciência que depende diretamente de embarcações. Como disse o Prof. Wladimir Besnard em 23 de fevereiro de 1959, então diretor do IO, “o instrumento de trabalho fundamental para qualquer instituição que se empenha em pesquisar o mar com finalidades práticas ou científicas é uma embarcação especialmente planejada e equipada para esse fim: o navio oceanográfico”.

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N/Oc. Prof. W. Besnard. Foto: Francisco Vicentini

No Brasil, uma das principais limitações para o desenvolvimento dos estudos oceanográficos, especialmente dos mares profundos, tem sido a insuficiência dos meios flutuantes adequados. A primeira instituição nacional de oceanografia, criada em 1946 e incorporada à USP em 1951, com o nome de Instituto Oceanográfico da USP (IOUSP), só pôde contar com um navio oceanográfico (N/Oc. ”Prof. W. Besnard”) a partir de 1967. No entanto, graças a essa importante plataforma flutuante, o IOUSP realizou por mais de 40 anos, inúmeras campanhas, incluindo desde projetos de pequena escala até grandes programas interdisciplinares, tendo contabilizado cerca de 8.200 estações oceanográficas. Uma vasta quantidade de dados oceanográficos tornou-se então disponível, tanto para as atividades científicas como acadêmicas, contribuindo para a formação de alunos em níveis de graduação e pós-graduação, e para a publicação de muitos artigos científicos. A principal área de atuação do “Besnard” foi a região sobre a plataforma sudeste, porém atuou na costa brasileira desde o Chuí até os rochedos de São Pedro e São Paulo. Teve também um papel importante durante os períodos iniciais das expedições brasileiras à Antártica, na qual participou de seis campanhas, sendo as primeiras dentro do programa internacional “SIBEX” (Second International BIOMASS Experiment), cujos resultados foram fundamentais na capacitação do Brasil para ser aceito como membro consultivo do Tratado da Antártica.

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N/Oc. Alpha-Crucis. Foto: Francisco Vicentini

Após longos anos de atividade do N/Oc. ”Prof. W. Besnard”, uma série de mudanças contribuiu para o crescimento do IOUSP (novas linhas de pesquisa; consolidação do curso de graduação; internacionalização; contratação de novos docentes; entre outros), demandando um navio que comportasse um número maior de pesquisadores embarcados, além de possibilitar o lançamento de equipamentos mais sofisticados e de grande porte, assegurando mais autonomia no mar. Assim, houve um forte empenho para a sua substituição, que se tornou realidade em 2012, com a aquisição de um navio oceanográfico americano, na época denominado “Moana Wave”, e que foi rebatizado de “Alpha-Crucis”.

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Comandante José Helvécio de Moraes Rezende e o Imediato José Antônio da Costa dos Santos Mesquita no Passadiço do N/Oc. Alpha-Crucis. Foto: Profa. Dra. Márcia Caruso Bícego

No último 26 de março o “Alpha-Crucis” completou seu terceiro aniversário, contado a partir de sua incorporação no porto de Seattle/EUA. No dia 29 de março de 2012, empreendeu Singradura para o Brasil e, fiel ao legado do NOc “Prof. W. Besnard”, conduziu simultaneamente o Cruzeiro Interoceanos. Na ocasião, foram testados seus equipamentos orgânicos de pesquisa e efetuadas coletas de dados oceanográficos e meteorológicos. Chegando a Santos em 13 de maio, no dia 30 subsequente foi inaugurado em cerimônia, que formalizou sua entrega à comunidade científica brasileira.

Treze cruzeiros oceanográficos, totalizando 22.454 milhas navegadas em 147,5 dias de mar, durante os quais foram realizadas 248 estações oceanográficas, constituem o acervo iniciado pelo “Alpha-Crucis”, em atendimento a relevantes projetos de pesquisa e ensino.

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N/Oc. Alpha-Crucis durante o cruzeiro de lançamento da boia Atlas-B Guariroba. Foto: Francisco Vicentini

No momento em que comemora esses feitos, o navio encontra-se executando docagem de rotina no Estaleiro Indústria Naval do Ceará – INACE, efetuando revisão e reparos - necessários à renovação de seus certificados, a fim de dar prosseguimento seguro à sua nobre jornada, em prol da oceanografia brasileira.

Esse novo navio representa mais que um substituto do N/Oc.” Prof. W. Besnard”, representa uma possibilidade para a comunidade científica marinha brasileira dar um salto de qualidade nas suas pesquisas, e avançar para águas mais profundas na busca de informações cujo acesso era impossível. Certamente, o N/Oc. ”Alpha-Crucis”, ao lado do também recém adquirido B/Pq. ”Alpha Delphini” e das pequenas embarcações “Veliger II” e “Albacora”, em muito contribuirá para o cumprimento da Missão do IOUSP de “Ensinar, pesquisar e transmitir o conhecimento científico sobre os oceanos em benefício da sociedade brasileira”, tendo em vista a Visão Institucional de “Ser uma referência no avanço do conhecimento sobre os oceanos e contribuir para respostas aos problemas socioambientais relacionados ao clima e à exploração sustentada dos ecossistemas marinhos”."

 

Prof. Dr. Michel Michaelovitch de Mahiques
Vice-Diretor do IOUSP

"Numa tarde do dia 29 de março de 2012 minha amiga Rosely Figueiredo Prado, Gerente de Importação da FAPESP, me chamou no Skype e, com o notebook nas mãos, filmava a saída do Alpha-Crucis de Seattle, cidade onde havia sido adquirido e passado por uma longa reforma, que o havia transformado no mais moderno navio oceanográfico civil do Brasil. O nome da Rosely, além do Comandante Rezende, do Engenheiro Luiz Nonato e mais algumas pessoas está gravado para sempre na história do IOUSP como uma daquelas pessoas que transformaram em realidade o sonho de um novo Navio Oceanográfico.

Desde sua saída de Seattle, foram 22.454 milhas navegadas e 248 estações oceanográficas. Mas, tão ou mais importantes do que milhas e estações são as pesquisas e as atividades de formação já executadas, as teses, dissertações e trabalhos de conclusão defendidos ou em elaboração, e as atividades de formação de oceanógrafos. Tudo isso nos permite afirmar que já foi justificado cada centavo investido na aquisição e reforma do navio.

Mas a burocracia brasileira pode ser cruel, e não importa muito se se trata da compra de 100 parafusos ou da docagem de um navio de pesquisa. O fato é que o Alpha-Crucis se encontra parado, já há algum tempo, para uma docagem quinquenal obrigatória que tem que seguir os rigores da legislação que trata da coisa pública no Brasil.

Em breve, as atividades do Alpha-Crucis serão retomadas, permitindo ao IOUSP desempenhar seu papel de ponta na pesquisa oceanográfica. E, em 2017, quando o Alpha-Crucis completar 5 anos de suas atividades, esperamos comemorar com um seminário, reportando suas principais atividades."

 

Vídeos de atividades de pesquisa e ensino desenvolvidas no N/Oc. Alpha-Crucis

 

Por dentro do Navio Oceanográfico Alpha-Crucis

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*Infográfico produzido pelo jornal O Estado de São Paulo

Para saber mais sobre o N/Oc. Alpha-Crucis e as demais embarcações operadas pelo IOUSP, acesse a página de Embarcações.

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