Cientistas mapeiam novos ecossistemas recifais na costa da Bahia
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- Publicado: Terça, 29 Setembro 2020
Expedição organizada por pesquisadores da USP e do Projeto Coral Vivo encontrou recifes e rodolitos no fundo do Banco Royal Charlotte
Fonte: Jornal da USP
Pesquisadores ligados à USP e ao Projeto Coral Vivo deram início ao primeiro mapeamento ambiental do Banco Royal Charlotte, uma grande — e ainda largamente inexplorada — extensão da plataforma continental brasileira, no sul da Bahia. As primeiras imagens submarinas feitas no local sugerem a existência de alguns ecossistemas recifais potencialmente semelhantes
“É um lugar que, apesar de estar muito próximo de Abrolhos, ainda é muito pouco conhecido”, afirma ao Jornal da USP o professor Paulo Sumida, do Departamento de Oceanografia Biológica do Instituto Oceanográfico (IO) da USP, que coordena o projeto. “Só quem conhece são os pescadores locais.” aos do vizinho Banco do Abrolhos, que abriga a maior biodiversidade marinha do Atlântico Sul.
- Localização do Banco dos Abrolhos e do Banco Royal Charlotte, no sul da Bahia - Elaboração: Herton Escobar/Jornal da USP
Visto por imagens de satélite, o banco tem o formato de uma mesa retangular, com cerca de 6 mil quilômetros quadrados — mais ou menos o tamanho do Distrito Federal, incluindo as bordas mais alargadas da plataforma —, entre os municípios costeiros de Belmonte e Porto Seguro.
A ideia, desde o início do ano, era fazer uma expedição científica completa na região, utilizando equipamentos de sonar para mapear digitalmente o fundo do banco, e um veículo submersível de controle remoto (R.O.V, em inglês), para fazer imagens de algumas feições mais interessantes. Por conta da pandemia, porém, a viagem teve que ser revista e quase não saiu do papel.
Para não passar em branco, e desperdiçar o planejamento que havia sido feito, porém, foi acordado que três pesquisadores locais, ligados ao Projeto Coral Vivo na Bahia (Fábio Negrão, Carlos Lacerda e Thais Melo), fariam uma expedição simplificada pela região, armados apenas de algumas câmeras e equipamentos básicos de mergulho (além de máscaras e álcool-gel, para se proteger do coro
navírus a bordo). A equipe passou dez dias no mar, em julho, fazendo imagens de 67 pontos ao longo de todo o banco, em profundidades que variaram de 30 a 70 metros.
“Fomos na marra, e na raça, mesmo”, diz o oceanógrafo Miguel Mies, coordenador de pesquisas do Coral Vivo e pesquisador associado do IO-USP. Os pontos de pesquisa foram selecionados com base em imagens de satélite e informações coletadas de “lagosteiros” e pescadores locais, que conhecem a região melhor do que ninguém.
“Não tem indicador melhor de substrato consolidado e tridimensional do que lagostas e serranídeos de grande porte”, afirma Mies, referindo-se à família de peixes que inclui badejos e garoupas — peixes de alto valor comercial e que só são encontrados no entorno de ambientes abrigados, como recifes e costões rochosos.
- Cientistas contaram mais de 20 espécies de peixes nesse recife de coral do Banco Royal Charlotte - Foto: Reprodução / Projeto Coral Vivo