Especialistas começam a colher resultados de pesquisa em arquipélago submerso a 1,1 mil km do RS

Fonte: G1

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Expedição explorou cientificamente a área em janeiro e fevereiro — Foto: Mariana Benites/LabGeo IO-USP

Maior do que o Uruguai e a 1.108 quilômetros do Rio Grande do Sul, a Elevação do Rio Grande, nome dado às ilhas submersas no oceano Atlântico de cerca de 120,5 mil km² (a oeste) e 180 mil km² (a leste), começou a ser explorada em 2009, mas somente nos últimos meses a ciência começou a medir seu valor. E ele pode ser inestimável, pois indica uma possível autonomia econômica do Brasil na exploração de alguns minérios.

O arquipélago foi tema de estudo, publicado em maio deste ano, pela plataforma de divulgação científica internacional Frontiers in Marine Science.

Os resultados da expedição Rio Grande Rise I, realizada em janeiro e fevereiro de 2018 por uma equipe do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP) com navio Alpha Crucis, começaram, agora, a ser conhecidos. A elevação fica entre 600 e 2 mil metros de profundidade e é cheia de terraços marinhos com canais fluviais, cavernas e dunas. O que mais surpreende os pesquisadores, entretanto, são as formas rochosas encontradas.

Foram achadas rochas cristalinas, tipicamente formadas no continente, como granito e gnaisse. Montanhas submersas com características semelhantes à da Serra do Mar, no Rio de Janeiro e em São Paulo. O que pode levar a crer que, em algum momento, a costa brasileira e a elevação formaram uma mesma porção de terra na superfície.

"São pesquisas ainda não publicadas", diz o professor Luigi Jovane. "Mas as idades das rochas que encontramos são iguais."

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Litoral do RS é o ponto mais próximo da ERG — Foto: Mariana Benites/LabGeo IO-USP

Esta pode ser, portanto, a peça que faltava para conectar os continentes da África com a América do Sul. Se as regiões Norte e Nordeste se encaixam perfeitamente com o Golfo da Guiné, o mesmo não ocorre com a parte sul do continente, que apresenta distinções da costa da Namíbia e da África do Sul.

"Não esperávamos encontrar (rochas cristalinas) nessa profundidade nem nessa distância do continente. Mas ainda precisa de mais investigação para afirmar que é um continente submerso. A área pesquisada ainda é pequena e precisamos ampliá-la", explica a doutoranda em Oceanografia Geológica Mariana Benites, que participou das viagens.

De acordo com estas novas pesquisas, pode-se supor que a Elevação do Rio Grande, um dia, fez parte da Gondwana, o supercontinente que reunia a maior parte das zonas de terra que hoje constituem os continentes do hemisfério sul, incluindo Antártida, América do Sul, África e Oceania. Porém, com a elevação da temperatura da Terra e os movimentos das placas tectônicas, que separaram os continentes africano e americano, ela começou a se deslocar e submergir.

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Mineração da ERG ainda é desaconselhada — Foto: Mariana Benites/LabGeo IO-USP

Exploração econômica precisa ser consciente e sustentável

Mas por que a Elevação ganhou tanto destaque atualmente? Porque ela pode significar autonomia econômica para o Brasil na exploração de alguns minérios.

O governo conseguiu, junto à Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISBA), em 2015, o direito de investigar por 15 anos as possibilidades de exploração econômica das terras raras. A incumbência recaiu sobre o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia.

Como as crostas de ferro e manganês das rochas da elevação são ricas em elementos químicos como níquel, cobalto, molibdênio, platina, titânio e telúrio, entre outros, o país pretende explorar o local, já que possui riquezas em concentrações que nem a Amazônia possui.

"Esses elementos têm um valor tecnológico fundamental", alerta o professor Frederico Brandini, titular do departamento de Oceanografia Biológica da USP e responsável pela pesquisa de R$ 8,8 milhões financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapesp) junto ao Natural Environment Research Council (NERC). "Só que essas reservas devem acabar. Onde vão explorar de novo? Nos oceanos. Logo, quem tem (terras raras como esta), tem a vantagem."

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Ilhas possuem áreas de 120,5 mil km² (a oeste) e 180 mil km² (a leste) — Foto: Reprodução/GoogleEarth

Em depósitos marinhos, precisa-se retirar menos do que em relação ao continente para se obter a mesma quantidade. A mineração no fundo do mar, entretanto, é desaconselhada, pois eleva uma "nuvem de poeira turva" prejudicial aos organismos bentônicos (seres vivos como corais e esponjas) e até bactérias que ali habitam. Pelo menos enquanto não há tecnologia estabelecida para minimizar o impacto ambiental.

"Antes de começar a explorar, tem que estudar para que seja economicamente viável. Senão, pode prejudicar outros ecossistemas. Isso é para mais uns 20 anos", projeta Brandini.

Brasil requer soberania

A região definida como "águas internacionais" está além das 200 milhas náuticas, ou 370 mm, aproximadamente, a partir de uma linha de base da costa definida em convenção da ONU. Toda região além dessa área é tida como águas internacionais. Por isso, o Brasil solicitou à Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC), que rege sobre toda expansão da plataforma continental de um estado costeiro, a extensão da plataforma continental brasileira.

"A ampliação pleiteada se deu para que ocorra o aumento da plataforma continental brasileira e, assim, o Brasil passará a ter direitos de soberania para prospecção e exploração dos seus recursos naturais, tanto minerais como de organismos vivos de espécies do solo e subsolo marinho", diz Hortencia Maria Barboza de Assis, chefe da Divisão de Geologia Marinha do Serviço Geológico do Brasil.

Em linha reta, a porção mais central da ERG fica a aproximadamente 1,8 mil km do Rio Grande do Sul. Se levar em consideração a porção oeste da ERG, a aproximadamente 2 mil km. Já o novo limite pleiteado é de aproximadamente 2,3 mil km de distância.

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