Navio Prof. W. Besnard, salvo pelo gongo

Fonte: MAR SEM FIM

Navio Prof. W. Besnard: para o fundo do mar, ou museu em Ilhabela? 

Nunca naveguei no navio Prof. W. Besnard, bem que gostaria. Aquilo não é um barco, é uma lenda náutica. Um ícone da oceanografia nacional. O navio foi batizado em homenagem ao russo-francês, Wladimir Besnard, cientista trazido ao Brasil pelos fundadores da USP, para organizar e dirigir o Instituto Oceanográfico em seus primeiros 14 anos. Tarefa que executou com brilho. Desde que  foi aposentado, em 2008, persistia uma disputa inglória: afundá-lo, e transformá-lo em atração submarina; ou transformá-lo no primeiro museu flutuante nacional?

Venceu a esperança para o navio Prof. W. Besnard

A boa nova, deste início de 2019, veio por meio do site do jornal A Tribuna, de Santos. A matéria conta que, “O navio oceanográfico ‘Professor Wladimir Besnard’ deve içar âncora ainda neste ano e deixar o Porto de Santos, onde está atracado desde 2008…Um entendimento sobre seu futuro foi encaminhado em reunião na sede do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico(Condephaat), entre a ONG Instituto do Mar (Imar), e a Prefeitura de Ilhabela”. Na verdade, o advogado paulista Fernando Liberalli, amante do navio e suas histórias, queria transformá-lo em museu flutuante. E conseguiu, depois de muita luta.

Prefeitura de Ilhabela doou o navio para advogado paulista

Tão logo foi descomissionado, o Prof. W. Besnard, foi doado para Ilhabela que queria afundá-lo, e transformá-lo em recife artificial. Para evitar, Liberalli recorreu ao Condephaat. O site historiasdomar ouviu Liberalli:

"Quando eu soube que o navio seria afundado, fiquei indignado, fui ao Condephaat e consegui que fosse iniciado um processo de tombamento histórico, o que inviabilizou o naufrágio e forçou a Prefeitura de Ilhabela a desistir. Daí, no final de maio, a atual prefeita substituta da ilha repassou a doação do Professor W. Besnard para o instituto que eu presido. Só assim consegui salvar o navio"

Opinião do Mar Sem Fim

Venceu o bom senso! Finalmente teremos um museu flutuante. E um que tem história à beça: o ícone polar, navio Prof. W. Besnard. O Mar Sem Fim não vê a hora deste sonho se tornar realidade. O Brasil, e os brasileiros, devem sua história ao mar e aos marinheiros. É preciso cultuar nossa rica e desconhecida história náutica. Oxalá este museu seja só o início de uma série. Parabéns à Fernando Liberalli, e Instituto do Mar.

O problemão de Fernando Liberalli e seu Instituto do Mar

Primeiro, Liberalli tem que tirá-lo do porto de Santos, em seguida, recuperá-lo. As duas fases são caríssimas. Liberalli declarou  ao site historiasdomar,

"O Professor W. Besnard não é um simples navio. É um monumento histórico, tanto que está sendo tombado pelo Condephaat. É isso que estou tentando preservar, mesmo ao preço de assumir despesas altíssimas, que, a princípio, ninguém teria como pagar…Só para retirá-lo da água para ser reformado custará cerca de R$ 3 milhões."

Iniciativa privada

Ainda o site historiadomar:

"Há muito trabalho a ser feito e isso exige uma grande quantidade de dinheiro, que não temos. Mas tenho certeza que vamos conseguir sensibilizar empresas patrocinadoras a nos ajudar a transformar o Professor W. Besnard num museu vivo sobre a relevância das pesquisas marinhas e das expedições brasileiras à Antártica.

O Mar Sem Fim desde já abre suas portas para ajudar no que for preciso."

Navio Prof W. Besnard – a história

O cientista que assumiu a USP, desde sempre não abriu mão de um navio de pesquisas. Para dar forma ao modelo escolhido pela Universidade de São Paulo, definiram o  estaleiro  A/S Mjellem Karlsen, em Bergen, Noruega, a quem coube o projeto final da embarcação.

Foto de Rafael Arbex, Estadão, 2018.

Navio foi entregue em 1967

Em 1967, já batizado em homenagem ao seu idealizador, morto pouco antes, ele foi entregue e trazido para Santos.

23 anos navegando ininterruptamente, mais de 150 viagens, e 50 mil amostras de organismos marinhos

O Prof W Besnard navegou mais de 3.000 dias. Durante os primeiros 23 anos o navio navegou sem interrupções! Foram centenas de viagens científicas. Só de Antártica ele acumula seis. A primeira expedição polar brasileira aconteceu graças ao Besnard. Ao todo, o navio fez mais de 150 viagens!, 68 diários de bordo para contar a história, e cerca de 50 mil amostras de organismos marinhos coletados, alguns não catalogados até hoje.

Pequeno e bravo navio. Foto, MSF, 2006.

Navio Prof. W. Besnard escreveu lindos capítulos da história náutica brasileira

Com a aproximação da aposentadoria, anunciada no início de 2016, o Prof. W. Besnard deixa de ser um simples navio. Torna-se  um nostálgico capítulo de nossa história náutica.

O comando, ou passadiço.

Um incêndio em 2008 põe fim à carreira do ‘bravo guerreiro’

Numa  tarde de novembro de 2008, um incêndio irrompeu num dos camarotes do navio  fundeado na Baía de Guanabara. Não houve vítimas, e os próprios tripulantes controlaram a situação. Mas o incêndio pôs o ponto final em sua história. Mesmo assim ele continua vivo. De acordo com informações, e fotos de amigos que o visitaram recentemente,

"a casa de máquinas está em perfeito estado. Motores, geradores, tudo funcionando. E nem uma gota de água nos porões do navio."

Casa de máquinas.

O Besnard está no porto de Santos…

Aspecto interno.

Como demonstram as fotos, apesar da idade o “coração do Besnard”, a casa de máquinas,  parece em bom estado apesar de, externamente, ele estar muito mal tratado.

Casa de máquinas.

As duas opções: um museu, ou afundá-lo?

E esta, por acaso, não seria a melhor oportunidade para contar nossa bonita história na Antártica? Transformando o Besnard em museu flutuante ele continuaria vivo, servindo ao Brasil e ensinando às futuras gerações como foram nossos primeiros passos no Continente Gelado.

Ilhabela tem 23 naufrágios naturais

Ilhabela já tem vários naufrágios naturais. Ao todo,  23 navios afundaram na região. O mais famoso  é o Príncipe de Astúrias que naufragou em 1916, na Ponta do Boi. É um dos naufrágios mais emblemáticos do Brasil. Constantemente visitado por mergulhadores.

Navio foi doado à prefeitura da Ilhabela em 2016

Em 2016, durante o mandato do então prefeito Toninho Colucci (2009 – 2016),  o Besnard foi doado à prefeitura de Ilhabela. Dois anos depois, em 2018, Ilhabela decidiu que o afundaria  para que se tornasse um recife artificial. Pouco depois,  o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico (Condephaat), acionado por Fernando, abriu um estudo de tombamento que paralisou os planos, dando lugar à ‘papelocracia’. Liberalli, com apoio deste site, de professores da USP, e de muitas outras pessoas a julgar pelos comentários dos internautas, finalmente ganhou a causa.

Fotos de O Estado de S. Paulo de 2018.

Abaixo foto do Mar Sem Fim de 2006.

Foto, MSF, 2006.

E outra foto recente de Rafael Arbex.

Foto de 2018.

‘O Besnard é história e mais que história da oceanografia, ele é história da ciência brasileira’ 

Assista entrevista do Professor da USP Michel Mahiques

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