Pesquisa traz novos dados sobre fundos de oceano na região da Antártica

Originalmente publicado em: Agência Universitária de Notícias. Ano 48. Nº 75. 14/08/2015.

Área estudada se encontra em Mar de Weddell

larsen sumida aunCom mudanças climáticas se alastrando pelo mundo a passos largos, tornou-se prioridade entender como as regiões dos pólos respondem às alterações nos seus ambientes, devido à vulnerabilidade de suas plataformas de gelo diante do aquecimento global. Nesse sentido, estudo realizado no Instituto Oceanográfico da USP (IOUSP) procurou coletar mais informações sobre um local ainda pouco estudado e de difícil acesso: o fundo do mar da Península Antártica.

A pesquisadora Maria Carolina Ribeiro investigou, em sua dissertação de mestrado, a composição da meiofauna e da macrofauna (pequenos invertebrados que vivem enterrados no sedimento) e comparou, em termos de abundância e densidade, as regiões de Larsen A e Mar de Weddell. Foi realizada também uma estimativa da biomassa da meiofauna, algo que não havia sido feito antes na região da Larsen A e que será de suma importância para auxiliar discussões e projetos futuros.

 

Aquecimento rápido e recente

A área estudada se encontra no Mar de Weddell, na Antártica, e compreende duas regiões: a primeira, mais afastada do continente, fica no mar aberto, portanto fora da influência da plataforma de gelo. Já a segunda, localiza-se na plataforma continental do lado leste da Península Antártica, na enseada Larsen A, onde havia, anteriormente, uma plataforma de gelo. Essas plataformas são extensões das geleiras continentais, apresentando-se como grandes massas de gelo flutuante.

Ribeiro explica que a Península Antártica é umas das três regiões conhecidas como RRR (“recent rapid regional warming”, aquecimento regional rápido e recente), sendo a única no Hemisfério Sul. Isso significa que o aumento de 1,5ºC registrado na temperatura da região está acima da média global nos últimos 50 anos, que é de 0,5ºC, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

“A plataforma de gelo Larsen é dividida em três seções: A, B e C, sendo que a A é a menor e está localizada mais ao norte que as outras. Ela sofreu um colapso em janeiro de 1995 e, entre fevereiro e março de 2002, sua porção B também se desintegrou”.

Essas quebras são resultado de uma soma de fatores, como, por exemplo, as interações entre padrões de vento e correntes locais na região da plataforma continental, que condicionam a circulação da água na cavidade basal dessas plataformas, além do derretimento de sua superfície devido ao aumento da temperatura atmosférica.

As plataformas de gelo são importantes porque auxiliam na estabilização das geleiras, impedindo o aumento da entrada de água (em forma de gelo, dessas geleiras) no oceano. Já em relação ao Mar de Weddell, seu estudo é de extrema importância, já que ele é considerado o principal local de formação da Água de Fundo Antártica, que atua no equilíbrio do clima global através da circulação termohalina.

“Se, por um lado, a desintegração da plataforma de gelo possibilitou a coleta dessas comunidades – no caso, 17 anos depois – e um maior conhecimento da topografia de fundo do local, essa quebra alterou drasticamente o ecossistema que existia anteriormente na região”, comenta a pesquisadora. A cobertura de gelo impedia a produtividade primária na coluna d’água e as comunidades bênticas abaixo dela viviam sob um regime oligotrófico (de pouco alimento). O seu colapso levou a uma grande alteração das condições ambientais, incluindo mudanças nas correntes de fundo e, principalmente, uma maior exposição à radiação solar - o que significa maior produtividade primária e, consequentemente, mais alimento chegando ao fundo.

 

Frutos de uma parceria internacional

O estudo conduzido por Ribeiro faz parte de um projeto chamado Larissa (LARsen Ice Shelf System - Antartica) e é resultado de uma parceria entre várias universidades e centros de pesquisa internacionais devido ao Ano Polar Internacional (2007-2008). A etapa em questão contou principalmente com a colaboração da Universidade do Havaí e do Programa Antártico Americano, sendo financiada pela National Science Foundation (NSF).

Foi utilizado o Navio de Pesquisas (RVIB) Nathaniel B. Palmer, dos EUA, entre março e abril de 2012, período em que se coletou as amostras que depois foram analisadas no Laboratório de Dinâmica Bêntica, do IOUSP, coordenado pelo professor Paulo Yukio Gomes Sumida.

Com tais análises, observou-se, entre uma série de resultados, que há uma maior produtividade primária na região do Mar de Weddell que na enseada Larsen A, e, consequentemente, um fluxo maior de fitodetritos (alimento) para o sedimento em mar aberto, apesar do aumento visível desse fluxo na Larsen A desde a quebra da plataforma. Também foi possível constatar que os valores de densidade da fauna (tanto da meio como da macrofauna) foram, em geral, menores que os encontrados em outros trabalhos em regiões antárticas.

As correlações encontradas sugerem que a quantidade de alimento é um fator muito mais importante na estruturação das comunidades bênticas que a granulometria. Como não haviam sido realizadas anteriormente estimativas da biomassa da meiofauna na região da Larsen A, esse trabalho serve como um dado novo importante, ressaltando a importância da pesquisa.

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